segunda-feira, 22 de setembro de 2008


Cidades potiguares:
Martins
Foto de
AG Sued
in
Grande Ponto


BALAIO PORRETA 1986
n° 2432
Rio, 22 de setembro de 2008

... a inteligência tem pouco a ver com a poesia. A poesia brota de algo mais profundo; está além da inteligência. Pode até mesmo estar ligada à sabedoria. É algo próprio; tem uma natureza própria. Indefinível.
(Jorge Luis BORGES, in Os escritores, julho 1966)


DESERTO
Simone Oliveira
[ in Letras e Tempestades ]

A saudade
do teu corpo
silencia
minhas mãos
e minha boca.



TEXTO DE PEDRA
Romério Rômulo

uma poesia brasa candente. cozer tudo,
ato do verso, dure tanto ou nada.


BEBA-ME, E EU ANDAREI SOBRE ESTRELAS
Mário Ivo
[ in Cidade dos Reis ]

Beba-me, e engoliremos a noite.
Beba-me, e as nuvens deixarão fiapos soltos entre dentes nossos.
Beba-me, enquanto minha boca busca tua mordida. Enquanto tua boca ronda meu pescoço.
Enquanto tua mão colhe plantas e flores no calor do meu sexo. Transplantados ao teu. Haste úmida, respiro aquático.
Beba-me, enquanto dançamos à beira do abismo, princípio nosso de cada fuga que fazemos antes do amanhecer.
Beba-me, mate-me.
Beba-me enquanto me comes.
Só não me abandones.


EXIGÊNCIA
Lisbeth Lima
[ in Felice. Natal: Sebo Vermelho, 2004 ]

Quero um colo que me cale;
que me fale enquanto calo.


A PROSA DE MARIZA LOURENÇO

De Bruxas

Toda mulher tem caldeirão e colher de pau pra mexer suas panelas.

Toda mulher invoca a lua quando menstrua. E amarga o pão que o diabo amassou.

Toda mulher tem um gato dentro do ventre (que mia).

Toda mulher tem lá seus desejos de vingança (daqueles bem secretos). E, um dia, haverá de querer saber da própria sorte.

Toda mulher é bruxa... Mesmo que não admita.

[ in Proseando com Mariza ]


DIVAGAÇÕES & PROVOCAÇÕES

O "bezerrão" do inglês Damien Hirst não é vanguarda, não é experimentação, não é arte. É picaretagem e/ou oportunismo, pura e simplesmente.

A vanguarda como tal teria (se) acabado nos anos 70? Eis uma pergunta sem o menor sentido. A questão foi e é outra: como uma possível arte experimental pode se transformar em arte experimentária?

O que é arte experimentária?

FILMES QUE INCOMODAM
quer pela forma, quer pela narrativa, quer pelo conteúdo

1. Ano passado em Marienbad (Resnais, 1961)
2. Hitler, um filme da Alemanha (Syberberg, 1977)
3. Salò (Pasolini, 1975)
4. Dogville (Von Trier, 2003)
5. One plus one (Godard, 1968)
6. A comilança (Ferreri, 1973)
7. A bela intrigante (Rivette, 1991)
8. Um condenado à morte escapou (Bresson, 1956)
9. Crônica de Anna Madalena Bach (Straub, 1967)
10. Assuntina das Amérikas (Luiz Rosemberg Filho, 1975)
11.
Jeanne Dielman... (Akerman, 1975)
12. Diaries, notes and sketches (Mekas, 1969)
13. Velvet underground & Nico (Warhol, 1967)

|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
EM NATAL,
estamos com
FÁTIMA 13

12 comentários:

Anônimo disse...

moacy:
notícias do falecido chico doido
de caicó?
um abraço.
romério

Ana Camarra disse...

moacy

Vim cá visita-lo também.
Irei voltar mais vezes.
Deixo aqui um poema português, Eugénio de Andrade, um dos meus favoritos.

As palavras que te envio são interditas

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade
um abraço

Mme. S. disse...

Dos que incomodam, a mim, posso falar de Dogville. E concordo com o mestre.

Anônimo disse...

Moacy,
obrigada pela publicação do poema Exigência, no Balaio. Aliás, é sempre um prazer enorme!
Um abraço, Lisbeth

Jens disse...

Oi Moacy.
Camarada, que bela seleção de poemas, cada um melhor do que o outro. Um baita presente de primavera.
***
Pilchado é um gaúcho vestido à caratér: chapeú, bombacha, bota e espora.
***
Faço coro ao Romério: também quero notícias de Chico Doido de Caicó, o cara.

Giuliano Gimenez disse...

muito bom sua página, mas como bom cético, eu pergunto, é verdade que vc já viu 40 vezes o filme a aventura, de antonioni?

voltarei pra exercitar minhas leituras

Moacy Cirne disse...

Na verdade, caro GIULIANO, já vi "A aventura" (Antonioni, 1960) mais de 40 vezes, das quais cerca de 25 em salas de cinema, a partir de 1962, quando o vi pela primeira vez. Um abraço.

Marco disse...

Caro mestre Moacy,
Beleza os poemas que você reuniu aqui. Cada um mais interessante que o outro...
Sobre os filmes, vi vários deles. Incluindo o Saló, que me fez sair no meio do filme (a única vez em toda a minha vida que deixei uma sala de cinema no meio da projeção). Esse não deu para aturar de jeito nenhum.
Recomendo que você assista ao atual "Ensaio sobre a cegueira". É excelente! Fernando Meireles está se revelando um cineasta de primeiríssima linha. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

orlando pinho disse...

a seleta de poemas
e a lista de filmes
deixa meu fôlego
em estado difícil!
ôi moacy,
brigado pela visita!
grande abraço!

Cássio Amaral disse...

Moacyr, meu brother muito bons poemas aqui e tudo na mesma qualidade de sempre.

Grande abraço.

mariza lourenço disse...

Moacy querido,

obrigada pelo carinho e gentileza. bom saber que não esquece desta proseadora sumida.

grande beijo.

mariza

Cefas Carvalho disse...

Moacy,
É uma honra para meu navio afundar em seo oceânico balaio. Obrigado. E parabéns pelos poemas e textos publicados. O de Mário Ivo é uma beleza! E quanto a lista dos filmes que mais o incomodaram, é uma ótima iniciativa. Que tal colher de amigos e intelectuais a mesma lista dos 10 filmes que mais os incomodaram? Grande abraço!