BALAIO PORRETA 1986
n° 2464
Rio, 29 de outubro de 2008
Questões técnicas suspenderam a produção diária do Balaio.
Aparentemente, os problemas encontram-se superados.
A luta e a poesia continuam, agora e sempre.
Celso Japiassu
[ in Uma Coisa e Outra ]
A silhueta transpõe
os limites do muro:
é um desenho de sombras.
Os braços revolvem os traços
e ampliam imagens
impregnadas de chuva.
As portas se abrem
e as retinas de um velho se fecham
em solilóquio mudo.
A cidade desperta pelos ventos,
murmúrio
no vazio dos espaços.
Sem origem ou nome,
acompanha uma palavra,
inania verba, seus íntimos ruídos.
Ruas desaguam como rios
e canalizam os ventos, sopram
memórias em oceanos represados
no estuário das distâncias,
à margem das arquiteturas
num gesto construídas.
Um cão mistura-se à poeira,
gane, rasteja para as sombras,
perscruta o enigma, corre e some.
Na fronteira da noite, surge o dia,
a tarde ensolarada, e um gemido
libera o sentimento que o prendia.
Os sons reproduzem vidas primitivas,
existências afogadas,
mares antigos.
Testemunha de ausências,
este é o mar que acompanha
o vento chegar a seu destino.
Jarbas Martins
[ in Contracanto. Natal, 1979 ]
O poema é o hábil gesto
que envergonha a mão.
Vestígio do incesto,
lesão.
É o canto imaginário
ou tubo de explosão,
emissor do contrário:
Não.
Mistério sem história
e iniciação
retido na memória
de um grão.
Armadilha, aresta,
redoma e desvão,
- o poema é o que resta.
Temporão.
PEDRAS DE TOQUE DA POESIA BRASILEIRA
[ Cf. José Lino Grunewald, 1996 ]
perdido entre signos
decifro devoro
persigo persigno
(Carlos Ávila, perdido entre signos)
(A) poesia é pura?
a poesia é para
de barriga vazia.
(Haroldo de Campos, Servidão de passagem)
Poesia é voar fora da asa.
(Manoel de Barros, Uma didática da invenção - XIV)
4 comentários:
Prezado Moacy,
Excelente este seu blog; devo estar terrivelmente desatualizado na blogosfera pois não o conhecia. Estou linkando-o ao meu.
Um abraço,
Chico (Assis de Mello)
ah, as questões técnicas...
essas enchem de saudades os dias em branco... em branco!? não!
os dias que nos faltam com tanta fartura...
adorei todos os poemas aqui... sem exceção!
ainda tenho que entender a concepção de mundo virtual... virtual... não entendo como ele me toca assim...
p.s. acho que hoje estou tagarela... rs
beijos, moacy!
Caro Moacy,
Estava estranhando a sua ausência, mas agora ela está ultrapassada.
A técnica nos trai por vezes.
Como sempre levo daqui um banho de boa poesia e a excelência das suas escolhas. Bem haja, meu amigo!
Beijos, queijos e cheiros...rsrsrs
saudade, moacy!
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