sábado, 6 de dezembro de 2008


Foto da modelo potiguar
Fernanda Tavares,
redimensionada por
Moacy Cirne,
entre cajus e cajás,
mangas e mangabas


BALAIO PORRETA 1986
2500
Natal, 6 de dezembro de 2008


Do Balaio Incomun ao Balaio Vermelho, do Balaio Vermelho ao Balaio Porreta: a partir de 1986, no Rio, já são 2.500 edições que fazem a história de nossa "folha". De simples boletim informativo (do Departamento de Comuinicação da UFF) a boletim anticultural, o Balaio - obra-em-progresso - construiu e constrói um espaço que se quer alternativo. Na medida do possível. Ou do impossível.


BALAIO QUE TE QUERO FOLHA PORRETA
FOLHA PORRETA QUE TE QUERO BALAIO

A poesia é necessária, já dizia Cristo, o Louco; a poesia é fundamental, dizia Maomé, o Desgarrado; a poesia é vida, dizia Lutero, o Incompreensível; a poesia é morte, dizia Kardec, o Isatisfeito. A poesia é, proclama este Balaio, o Delirante.
(Balaio 275, de 11 de abril de 1991)

... já dissemos em algum lugar, talvez em Natal, diante do Potengi ou de Genipabu; talvez em Caicó, contemplando o encontro do Seridó com o Barra Nova; talvez em Niterói, num certo casarão da Lara Vilela: o saber que não se vivencia, que não se torna prática, que não se multiplica, que não gera novos conhecimentos, não merece ser chamado de saber. No máximo, será um saber teoricista, formalista. No máximo, será um saber ilusório, frustrante e frustrador.
(Balaio 276, de 12 de abril de 1991)

O meu pau-brasil,
Cabra safado por natureza,
Adora um xibiu macio
Em natural safadeza.
Adora bunda e adora boca
Dentro da maior chumbregueza.
(Chico Doido de Caicó, in Balaio 424, núm. sem data de 1992)

Na sua opinião, o Brasil foi descoberto em 1500 por:
[] Cinco marcianos que pretendiam conhecer o carnaval de Olinda
[] Caetano Veloso, capitaneando a navilouca Tropicália
[] Cristóvão Colombo, a mando de Galileu Galilei
[] Maria Mula Manca, popular figura de Natal
(Pesquisa DataBalaio de Comunicação Aloprada,
in Balaio 1087, de 14 de setembro de 1998)


MEU BALAIO PREFERIDO
DOS ÚLTIMOS 25 MESES

n° 2188
Rio, 16 de dezembro de 200
7


VIAGENS AO PASSADO

Imaginemos que vivemos num mundo digno das melhores histórias de ficção científica. À nossa disposição - e de todos os amigos e amigas - uma sofisticada máquina de viagem no tempo, em direção ao passado. Qualquer passado, qualquer lugar. Seria fascinante, não? Digamos que cada um de nós poderia optar por 13 viagens, com duração, cada uma delas, de 3 a 13 dias. Por que esses números? Nada de especial, garanto. Apenas gosto dos números 3 e 13. Mas não sou supersticioso, a não ser quando o assunto é futebol. Assim sendo, vamos aos fatos. Vamos às viagens.

No meu caso, eis as opções preferenciais em relação ao passado:

1.
Rio de Janeiro, 1941: para vibrar com o Fla-Flu da Lagoa, quando se decidiu o campeonato carioca do ano. O tricolor jogava pelo empate e os últimos seis minutos da partida (o Fluminense fizera 2 a 0, mas os rubro-negros empataram quase no final), os mais dramáticos da história do futebol mundial, duraram uma eternidade. O 2 a 2, por fim, deu o título ao clube das Laranjeiras.

2.
Caicó, Rio Grande do Norte: para viver com intensidade uma semana qualquer de 1820, 1821 ou 1822, ou mesmo 1828/29. Na época, a cidade seridoense talvez contasse com 200 ou 300 moradores em sua reduzida área urbana e o padre Brito Guerra, namorador que só ele, já dominava o cenário político da região. Já pensaram na magia do Poço de Santana, então?

3.
Natal, em dezembro de 1928: para sentir a cidade, com aproximadamente 25 mil habitantes, e presenciar, à distância, os encontros do Mestre Cascudo com Mário de Andrade. Além do mais, procuraria passar 13 dias entre a Redinha e Areia Preta, vagamundando, nas horas matutinas, pela Ribeira e pela Cidade Alta. Papoprosearia com Jorge Fernandes, por que não?

4.
São Petersburgo, Rússia, em outubro/novembro de 1917: para ver de perto o nascimento da revolução soviética. Talvez ouvisse os discursos inflamados do próprio Lênin. Encontraria uma maneira de viajar para Moscou, para conhecer Maiakóvski. Se possível. Decerto, o meu russo-seridoense não seria assimilado pelos moscovistas. E daí? Pouco importa(va).

5.
Copacabana, Rio, qualquer época entre 1920 e 1929. O bairro ainda não era a "princesinha do mar", mas já era, sem dúvida, um lugar maravilhoso: suas garotas, seu charme, seus encantos, suas ruas, suas praças, seus mistérios. Sua praia. A Praia de Copacabana. A Praia de todos os amores. A Praia de todas as ilusões. A Praia de todos os sonhos. A Praia de todos os azuis.

6.
Novamente Natal. A época? Final dos anos 40. Quando o Rio Grande foi inaugurado, com seus filmes que atraíam 1.500 pessoas nas sessões dominicais. Quando a esquerda era uma realidade dinâmica na capital potiguar. Quando o Grande Ponto reunia políticos, jornalistas e poetas ávidos pelas últimas novidades. Quando Maria Boa era um belo e importante cabaré.

7.
Palestina, primeiros anos da Era Comum: para ver, de perto, a morte de Cristo. Lenda, mito, ficção ou realidade? Muitas e muitas dúvidas poderiam desaparecer; muitos e muitos questionamentos poderiam (re)começar. Como dimensionar o cristianismo? Qual teria sido o verdadeiro papel de Cristo? E o de Madalena? Poderia confirmar - ou não - a ressureição?

8.
Paris, final da II Guerra Mundial: o dia da libertação. Os dias seguintes. A euforia das pessoas nas ruas da capital francesa. Os amantes perambulando pelos bairros mais tradicionais. Os filmes. Os vinhos. Os livros. Os jornais. As peças de teatro. Os crepúsculos. As auroras. As águas e os sonhos. A poética do devaneio. O combate ao nazismo, em todas as frentes.

9.
Veneza, 1610: para me emocionar com a estréia das Vésperas da Virgem, de Claudio Monteverdi. "Esta genial composição sacra, contemporânea das últimas obras de Shakespeare, é tão grandiosa e bela que nos poderíamos julgar chegados a uma espécie de apogeu da história da música" (Roland de Candé. As obras-primas da música, I. Porto, 1994).

10.
Havana, 1959: a vitória da Revolução Cubana. O (possível) contato com os guerrilheiros de Fidel Castro e Che Guevara. Sim, é verdade: Cuba deixava de ser um mero "quintal dos Estados Unidos" e transformar-se-ia numa esperança socialista. Cuba deixava de ser um reles "prostíbulo dos ricaços norte-americanos" e tornar-se-ia uma esperança revolucionária.

11.
Paris, maio de 1968: para, com emoção, participar das manifestações políticas dos estudantes, professores, poetas, cineastas e outros trabalhadores da cultura. Estaria ao lado daqueles que escreveriam nos muros da Cidade Luz: "É proibido proibir", "A imaginação no poder", "Sejamos realistas, almejemos o impossível", "Amai-vos uns sobre os outros". E mais. E muito mais.

12.
Brasil, litoral baiano, abril de 1500: ao lado dos índios, para ver e sentir aquelas estranhas embarcações, com aqueles homens igualmente estranhos, "achando" nossa terra e nossa gente. Como reagimos, de fato? Como nossos deuses se comportaram? Como sentimos o momento, plenamente? A Mata Atlântica (qual o seu nome original) era um colosso. O que fariam com ela?

13.
Região do Seridó, Rio Grande do Norte, 4 de novembro de 1917: para vivenciar o nascimento de um lugar, por muitos amado, por muitos desejado, por muitos vislumbrado - São José da Bonita. Ou São José de Todos os Encantos. Ou São José de Todos os Rios. Ou São José de Todos os Jardins. Ou São José de Todas as Águas. Ou, simplesmente, São José do Seridó.

13 comentários:

Maria Maria disse...

Moacy, o Seridó é minha fonte de inspiração, por isso vivo aqui. Tem poema erótico do espartilho. Beijos
Maria Maria

Anônimo disse...

Moacy: E por falar em viagens ao passado, faz algum tempo Fernanda esteve lá no hotel com Murilo Rosa. Muita simpática, linda, um amor de pessoa. Ele também.

Anônimo disse...

Parabéns, Moacy, por toda a luta empreendida neste Balaio! Viva o Balaio! Viva o Seridó!

Márcia Maia disse...

Muito balaio, hein? Parabéns, Moacy. E que haja sempre mais.
Um beijo daqui.

Anônimo disse...

Viva os 2500 números do BALAIO! Viva a construção dos espaços alternativos!
VIVA aos que sonham!
UM abraço forte!

2. Lá em HomoLuddens tem a minha homenagem ao Balaio.
Douglas Thomaz.

Anônimo disse...

Viva os 2500 números do BALAIO! Viva a construção dos espaços alternativos!
VIVA aos que sonham!
UM abraço forte!

2. Lá em HomoLuddens tem a minha homenagem ao Balaio.
Douglas Thomaz.

Cosmunicando disse...

ah Moacy, que viagem maravilhosa essa ao passado, curti demais... em muitas gostaria de ter estado também testemunhando o que rolou!

mas viagem fantástica mesmo é essa sua de 2500 Balaios insurgentes e que continuam grudando na gente!

em poucos meses descobri que não dá pra ficar sem ler o Balaio! E descobri minha admiração pelo seu criador =)

parabéns querido, que venham muitos mais.

beijos

Anônimo disse...

2500! que venham mais!
é o desejo de todos!
somos crias da sua criaçao!
parabéns, moacy!
daqui do poço de santana!

Adrianna Coelho disse...


já tinha deixado meus votos lá no Balaio do Homo Luddens

repito aqui: que vc, moacy, conduza essa "balaiada" por muitos e muitos números, que a gente cai dentro!

esse post me emocionou... adorei tbm as viagens!

beijão!

Tobias disse...

Parabéns, então, pelo Balaio, macho véi!

E que venham os próximos 2500, que balaio só presta grande - como este vosso!

Anônimo disse...

Prometo fazer parte dos outros 2.500...
Matando a saudade!!! Bjãooooooooo

dade amorim disse...

Moacy, estive aí em Natal mais uma vez, e é uma alegria sem fim visitar sua terra. Parabéns pelo 2.500º post! Que venham muitos mais por aí.
Beijo

Mme. S. disse...

rumo a meio milhão de posts... eita, que isso é bom demais! um beijo, querido.