quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Foto:
Iosif Badalov


BALAIO PORRETA 1986
n° 2772
Rio, 3 de setembro de 2009

O Brasil precisa ser mais democrático e não menos, como quer a oposição, adepta do Estado mínimo e dos cortes dos direitos sociais. O Brasil precisa reformar profundamente o Estado, não como quer a oposição, para deixar mais espaços para o mercado, mas para torná-lo efetivamente um Estado de todos e para todos.
(Emir SADER. Estado, governo, partidos, democracia, in Carta Maior)


FETICHE
Renata Nassif
[ in Fênix em Verso e Prosa ]

escrevo palavras de sangue, talhadas na carne.

meu prazer secreto - e renovado - é rasgar e reler, doer e reler, gozar e reler.

escrevo quando dói. escrevo porque dói.

escrevo e gozo.


ÂNIMA
Adrianna Coelho
[ in Metamorfraseando ]

por uma brecha do meu sono
você sopra toda essa tinta
pra pintar na minha cara
insetos
átomos
cantos e contos
dos seus quintais
incalculáveis

tudo cabe na tela absoluta
e branca
tudo cabe
e outros tons insurgem

penso em você
parcialmente um
em todos os fragmentos reunidos
- unânime
e escrevo até o último segmento
cada passo dessa incerta dança


NADA É... SE ME PARECE
Mirse Maria
[ in Meu Lampejo ]

Nem sempre o carinho
afaga quem precisa.

Nem toda luz ilumina
minha vida.

Nem todo amor
enaltece.

Nem toda alma saboreia
a prece.

Talvez amanhã
eu possa ver,

Aquilo que hoje
me foi negado.


A FACE OCULTA
Silvana Guimarães
[ in Escritoras Suicidas ]

"Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível".

- Nelson Rodrigues


Três homens me amaram e eu poderia começar essa história assim: Terezinha de Jesus numa queda foi ao chão acudiram três cavalheiros todos três com o pau na mão. Ou pedra. Três homens me amaram e amaram igual. Como sofreram nas minhas mãos, no meu corpo, na minha loucura. Tão calma e explícita. Dos três eu arranquei o rosto, que diferença a cara deles não fazia. Eu sempre preferi a alma. E o corpo. Nem sempre nesta ordem. De pior que eu fiz, foi bagunçar a sua essência. Desgovernei o seu destino, que foi me desejar e acreditar que eu ia ser deles para sempre. Eu sou a mulher da vida dos três. Aquela que eles não vão encontrar ou ter jamais e vão desejar para o resto inteiro do seu tempo. Três homens me amaram e fiz os três chorar dizendo-se ressuscitados em mim. No meu amor. No meu querer. Os três que me amaram me traíram. E talvez a pior maldade que eu tenha executado nessa existência foi esta. Nunca pedi perdão a eles pela traição que me fizeram. Dia sim, dia não, lembrei-lhes o mal que me causaram. Como um suplício sem fim. Para ouvir os três arrependidos, suplicando o meu perdão. Assim eu entendo o amor. Tem de rastejar. Aí eu acredito. Depois, mandei embora. Os três homens que me amaram tão igual. Dois sumiram no mundo e não me esquecem. O que ficou não sai de mim. Só ele revelou meu mistério de ser sempre *. Três homens me amaram e eu poderia terminar essa história assim: Terezinha de Jesus fecha a porta apaga a luz.



15 GRANDES MOMENTOS DO CINEMA

Francisco Sobreira

[ in Luzes da Cidade, em 11/12/2005)


1 - O ator bêbado recitando o monólogo de Hamlet, trepado em uma mesa de bar, em Paixão dos Fortes (John Ford)
2 - A sequência final de Oito & Meio (Fellini)
3 - A expressão do rosto do vagabundo no final de Luzes da Cidade (Chaplin)
4 - O plano-sequência no início de A Marca da Maldade (Welles)
5 - A sequência em que Cary Grant é perseguido por um avião em Intriga Internacional (Hitchcock)
6 - Gene Kelly dançando e cantando debaixo de um toró, em Cantando na Chuva (Kelly & Stanley Donen)
7 - A sequência final de Sinfonia de Paris, na qual se aliam, de forma admirável, a cor, a dança e a música (Vincente Minelli)
8 - A morte da garota em M, o Vampiro de Dusseldorf (Fritz Lang) , revelada pela bola rolando no solo e o balão pousado num poste de iluminação, brinquedos que o assassino comprara para a vítima.
9 - A sequência na escadaria de Odessa, num primoroso exercício de montagem, em O Encouraçado Potemkin (Eisenstein)
10 - A dança dos pãezinhos, em Em Busca do Ouro , de uma poesia simples, mas cativante (Chaplin). Inesquecível.
11 - A cena em que os amantes se conhecem, em uma festa, em Amor, Sublime Amor (Robert Wise & Harold Robbins)
12 - Os cavalos agonizando no final de uma batalha, em Kagemusha, a Sombra do Samurai (Kurosawa)
13 - A cena da Morte conduzindo as pessoas, em O Sétimo Selo (Bergman)
14 - A gargalhada do velho, reagindo com bom-humor à perda das jazidas de ouro, no final de O Tesouro de Sierra Madre (Huston)
15 - Em Rififi (Jules Dassin). A sequência do assalto a uma joalheria, desde a noite em que os assaltantes saem de casa até à reunião na casa de um deles, já com o produto do roubo. Uma sequência de pouco mais de 30 minutos, sem nenhum diálogo, os personagens se comunicando com gestos ou na expressão facial.


DUAS PEQUENAS NOTAS POLÍTICAS

1. Pobre Marina Silva, guerreira de tantas causas nobres... Não passará de um joguete político nas mãos dos DEMOcratas, do Psdb e dos golpistas de plantão.

2. A sacanagem literária do ano já se configura com todas as letras: collor de mello tornou-se "imortal" da Academia Alagoana de Letras. Para a sacanagem ser mais completa, só falta agora o filhote da ditadura josé agripino maia ser candidato à Academia Norte-rio-grandense de Letras, sendo "consagrado" pelos acadêmicos potiguares.

18 comentários:

Unknown disse...

Oi Moacy!

Ainda bem que sobrevivi ao dia de ontem.
Assim posso ver as maravilhas do seu Balio!
Como a fotografia LInda, e ler Emir Sader!

Agradeço por figurar entre tão grandes poetisas.

Fetiche de Renata Nassif está algo!

Adriana, é aquela que não há como medir, é 1000, sempre.

Sivana Guimarães, deu show, nessa prosa!

Parabéns,à todas, exceto a mim.

Os filmes, só não vi os vampirescos, porque tenho medo. Os osutros são realmente bons.

Pobre Marina Silva MESMO!

Obrigada e Beijos

Mirse

Unknown disse...

Esqueci de falar que Wellington conseguiu atualizar meu blog.

Coloquei-o como segundo suplente com direitos para isto.

Agora está tudo certo.

Beijos

Mirse

Pedrita disse...

bonito o poema ânima. o brasil precisa ser menos corrupto e não somente no governo federal, mas em cada um de nós. desde aquele q pega do chefe papel sulfite escondido pro material escolar do filho, q imprime ebooks com tonner do chefe escondido até os gdes furtos. beijos, pedrita

Blog do Manoel Amâncio disse...

Moacy, eu não duvido de mais nada. Se o critério for o mesmo usado para "imortalizar" Collor, Agripino sai da eleição direto para a Presidência da Academia Norte-rio-grandense de Letras. Nossos imortais têm uma compulsão mórbida para babar. Numa Academia que tem Paulo Macedo (cronista social) como membro, cabe qualquer bosta.

Anônimo disse...

"No Brasil não há cidadãos, as classes médias não querem ser cidadãs, porquê querem privelégios. Os pobres não chegam a ser cidadãos. Chegamos a alguns bons resultados do ponto de vista do consumidor. A reclamação, o atendimento, mas o debate dos valores, eu acho que esse é o centro da questão da cidadania, a cidadania ela se amplia quando se amplia também a noção de valor, viver valorando as relações interpessoais, viver valorando a minha relação com minha terra, viver valorando a mim mesmo como pessoa forte. Tudo isso é posto de lado, a consequência é que os partidos tem dificuldade de serem partidos, porque os partidos acabam embarcando e acabam não tendo propostas coerentes, porquê se formos todos cidadãos os partidos são obrigados a fazerem propostas coerentes, seguindo linhas diferentes, indispensável em numa democracia, oferencendo alternativas. Se as alternativas forem somentes o consumo, se a oferta é só de coisas e mais um pouco de dinheiro, a idéia de cidadania se reduz e a democracia serve, fica o nome, porque continuamos a falar que há uma democracia no Brasil, será que há mesmo? ou há um sistema eleitoral, um eleitoralismo, cria a ilusão de participar, a ilusão ser parte de um processo de comando e na realidade a discussão pública dos grandes problemas não pode progredir." Milton Santos

Bjs querido.

Marcelo Novaes disse...

Moa,


Bela postagem, no todo. Collor será sempre lembrado não por seus dotes literários. Mirze e Adrianna são boas de se ler, aqui e lá. Silvana Guimarães transfigurou um mote de Chico Buarque na visão do pleno domínio da femme fatale. E mais, subverteu a equação de Nelson Rodrigues do "perdoo-te (isto sem acento fica estranho pra caramba...) por me traíres". Não casualmente, Nelson lhe serve de epígrafe.










Abração,











Marcelo.

Adriana Godoy disse...

Moacyr, seu balaio está porretíssimo. O Poema da Mirse, esse texto pra lá de bom da Silvana, os momentos do cinema, tudo isso só pode ser elogiado. Bom demais. bj

Jens disse...

Oi Moacy.
Gostei muito do conto da Silvana, desvastador como a observação do Nélson na epígrafe. Parabéns pra ela.
***
Eu acrescentaria mais uma cena na lista do Sobreira: a cena final de Casablanca - a despedida de Rick e Ilse e à caminhada rumo ao nevoeiro (o início de uma bela amizade).
***
O papel reservado para Marina Silva é o de uma Heloísa Helena light, que será descartada pelo PIG quando não tiver mais utilidade (ou seja, tirar votos da Dilma e beneficiar o Serra). Trata-se de uma inocente útil.
***
Sarney e Collor sempre serão lembrados, mas não por suas obras literárias. Em termos de imortalidade, fico com Mário Quintana.

Um abraço.

Adrianna Coelho disse...


O Balaio hoje está mais do que porreta!

Os poemas da Renata e da Mirse. A prosa da Silvana - show! A foto! (que mulher mais linda!)... Depois vc coloca os 15 momentos do cinema, por Sobreira - muito bom! E aí vem a parte, à qual nem me sobram palavras, faltam (e todas de baixo calão), claro que nem vou escrev~e-las aqui... rs

Obrigada por escolher um poema meu. :)

Um cheiro.

nydia bonetti disse...

A ala feminina sempre arrasando, não é Moacy? A masculina também. :)
Bom ver Renata por aqui. beijos pra todos.

Francisco Sobreira disse...

Puxa, Moacy, já nem me lembrava dessa lista, feita há quase 4 anos. Obrigado, mais uma vez, por me incluir nesse Balaio porreta. Um abraço.

nina rizzi disse...

belezuras. o balaio é a oitava arte, hm... e esse bixinho (sim, com x) me pico(to)u :D

Bené Chaves disse...

Moacy: que foto, hein? Espetacular! E muito boa a lista do amigo Sobreira.
E essas tais de 'Academias de Letras' são um horror, não?
Gente como Sarney e similares... não é o caos?
A mediocridade continua a dominar o mundo e particularmente o Brasil. Pobre do 'nosso' país! Pobre de um governo que se alia a um louco como o Collor, a um Renan Calheiros,ou a um Sarney. Pobre de um país que olha estupefato a palhaçada de um político que se dizia sério(o Suplicy)a mostrar (retardatariamente)um cartão vermelho apenas com o intuito de aparecer na mídia. Acho que o PT não é mais aquele...
Enfim, pobre de um país rico!
Mas de uma riqueza aparente e para uma minoria dominadora, seja em que partidos ela esteja.

Um abraço...

BAR DO BARDO disse...

tudo de bom aqui...

mulheres, homens, humanidades...

e as academias literárias conseguem façanha, pois: se analfabetizam...

namaste!

pituleira disse...

Moacy, a galera do Bar de Ferreirinha quer Chico Doido de Caicó já, no Cabaré da Academia Brasileira de Letras.Sarney,Collor, só pode ser brincadeira.Paulo Macedo aqui no Estado.È hora de mandar esse pessoal pra puta que pariu.

Lou Vilela disse...

Sempre porreta! ;) Os textos, um show à parte!

Bjs

líria porto disse...

silvaninha guimarães - eu amo essa mulher - minha companheira de guerra lá no escritoras suicidas - sabias, moa, que nossa antologia deve ser publicada em papel ainda esse ano? vai chamar "dedo de moça".

besos

Beti Timm disse...

Mestre,

que alegria ver o doce Mr. Sobreira no Balaio. Ele é realmente um "Mister", em tudo e principalmente no tocante a cinema. E só vc, para incluir no Balaio só coisas boas.

Beijos