quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Pin-up
dos anos 20 do século passado por
Mabel Rollins Harris


BALAIO PORRETA 1986
n° 2864
Natal, 9 de dezembro de 2009

Mas, afinal, para que interpretar um poema?
Um poema já é uma interpretação.
(Mario QUINTANA, in A vaca e o hipogrifo)


FILMES PARA UMA TEMPORADA EM SÃO SARUÊ
(1/22)

Não, não se trata de mais uma lista de melhores filmes, por mais provisória que seja. Trata-se apenas, muito modestamente, de uma relação de 66 filmes que eu levaria para a utópica São Saruê, em pleno sertão nordestino, lá pras bandas do Seridó. Decerto, seria uma temporada relativamente pequena, de apenas 66 dias. Preferencialmente, ao lado da mulher amada. Asssim sendo, eis os três primeiros selecionados, sem ordem preferencial:

Blow-up / Depois daquele beijo (Antonioni, 1966). A sociedade de consumo e seus crimes insolúveis. A modernidade e seus jogos imaginários. O vermelho é azul.

The quiet man / Depois do vendaval (Ford, 1952). A natureza apolínea e sua poesia acolhedora. O insondável dionisíaco e sua beleza humana. A aurora é crepúsculo.

O fabuloso destino de Amélie Poulain (Jeunet, 2001). O inesperado e o significado dos pequenos gestos. O olhar e a mais pura surrealidade. O verouvir é literatura.


METAMORFOSE
Nel Meirelles

tornei-me homem
pela primeira vez
de novo
quando meus olhos
ouviram dos teus olhos
o silêncio
indefinido do querer


BEIJOS & BIFES
Ronaldo Werneck
[ in Noite americana - Doris: day by night, 2006 ]

vem, vam'bora, vamos juntos, marcela,
trampo de tédio e amor: poesia.
é curta a noite, curta, bela-bela

bafos e beijos, bifes sem critério
e chope e vozes altas e ousadia.
vasto chão, vão imantado: mistério


BECO ESCURO
Jeanne Araújo

Tudo já tive e tudo perdi.
Desenvolvi o gosto pelo sal,
constrangida pela meia de seda
que aparecia.
Era o céu disfarçado de beco escuro.
Ele tocou minhas coxas
por baixo da saia.
Eu arregalei os olhos
de susto e desejo.
Meu peito palpitante
disse: te quero,
como a água que procura um atalho
para se perder no mar.
Depois foi o amor subindo
pelas têmporas, negro,
sufocando o coração.
Tudo já tive e tudo perdi.
Só o amor me sacrifica tanto.


SUGESTÃO PARA O JANTAR
Luiz Antonio Simas
[ in Histórias do Brasil ]

Não conheço uma comilança em nossa história que tenha sido mais impressionante que o famoso baile da Ilha Fiscal, organizado pelo gabinete ministerial do Visconde de Ouro Preto e realizado no dia 9 de novembro de 1889. A derradeira festa da monarquia brasileira foi um regabofe para 4000 convidados, com tudo que tem direito. Reproduzo aqui, para que os leitores tenham a dimensão do monumental furdunço, o menu do evento e outras informações:

Cardápio:

- 64 faisões;
- 1300 frangos;
- 800 quilos de camarão;
- 500 quilos de lagosta;
- 1200 latas de aspargos;
- 1000 latas de trufas;
- 300 peças de presunto de parma;

- 520 perus;
- 12 mil sorvetes,
- 25 mil sanduíches;
- 500 pratos de doces portugueses.
Bebidas:
- 10 mil litros de cerveja;
- 258 caixas de champanhe;
- 258 caixas de vinho.

Pessoal do serviço:
- 90 cozinheiros;
- 150 garçons.
Fundo de recursos:
- O baile foi realizado com a realocação de parte das verbas do fundo de auxílio às vítimas da seca no Nordeste.

É mole?

11 comentários:

Unknown disse...

Bom dia, Moacy!

Realmente não há porque interpretar um poema, mas o poeta espera, no caso de blogs, um sinal de aprovação ou não.

Leve esses filmes e curta com sua amada. O melhor será a companhia.

Nei Meirelles sempre me surpreende. Fantástico!


Quanto ao jantar... NOOOOOSSSSSAAAAA!


Beijos

Mirse

Anônimo disse...

Mole é pudim né Moacy.
E então, saude boa igual a um coco?!
Bjs.

líria porto disse...

desde que o mundo é mundo alguém come (e bem) às nossas custas!

a sorte é que desde que o mundo é mundo há poesia!! o nell o werneck a jeanne - muito bons!

dos três filmes só vi o último - ao lado do amado teria sido um luxo!

besos

Pedrita disse...

interpretação é complicado mesmo, pq cada um avalia conforme os seus referenciais e cada um tem o seu próprio. beijos, pedrita

Unknown disse...

Moacy, vc fez FILMES PARA UMA TEMPORADA EM SÃO SARUÊ e abaixo postou a grande comilança da monarquia. O que me fez lembrar de um filme assistido tempos atrás chamado A Comilança, se não me engano de Mário Monicelli, com Marcelo Mastroiani e Ugo Tognazzi. Uma mistura voraz de gastronomia e sexo com um desfecho surpreendente.

Unknown disse...

Moacy e amigos:

Revi ontem "Depois do vendaval", de John Ford - um filme pra lá de São Saruê. Logo no início, quando o personagem de John Wayne (Sean Thornton) vê a personagem de Maureen O'Hara (Mary Kate Danaher) pela primeira vez, há um plano de gênio, na retirada da moça com os animais que ela está conduzindo. O enquadramento pega a mulher no plano inferior e seu corpo fica cada vez mais fora do quadro. Dá para entender como Ford chegou, anos depois, ao mais que brilhante desfecho de "Rastros de ódio": todos os personagens entram num ambiente (a sala de cinema?), exceto Ethan, que segue para a parte externa desse lugar (o mundo do filme?).
Abraços:

Marcos Silva

Unknown disse...

PS.

Amigos:

Esqueci de dizer o quanto eu gosto de "Blow-up", no nível de Ford, com uma dose de embriaguez reflexiva própria - a extrema beleza das imagens que exigem crítica. Escrevi sobre ele naquele livro que Moacy não comentou até hoje - "Metamorfoses das linguagens". Comenta, Moacy!
Abraços:

Marcos Silva

nina rizzi disse...

O comentário do Assis me efz lembrar de uma peça: Valéria Messalinia, se fosse filme "Calígula.

Nossa, que linda pin-up, tão onírica, foge das tradicionais com suas cenas cotidianas, adorei, claro, sou doida por elas.

Ao lado do amado, ou da amada, eu assistiria agora, pela enésima vez, um destino de vendavais. que bela seleção, pea começar. rumbora, 'bora 'bora qu'essa metamorfose, né ;)

Um cheiro, do mar.

Francisco Sobreira disse...

Moacy,
Vou repetir o que disse há pouco tempo: essas fotos bem antigas de nus revelam um que de pureza que não vemos nas de hoje. Agora, como cada um tem o direito de levar o filme que quiser para São Saruê, eu me dou o direito de não levar o filme desse Jeunet. Um abraço.

nina rizzi disse...

aiiiiiiiiiii... eu tou bobona! comovida: me achei aqui na sua barra lateral :) putz, valeu, hein.

e olha que coisa, se eu tivesse uma máquina fotográfica, você poderia ver minhas duas versões do nascimento da Vênus: Lavínia, linda, pulando numa piscina natura de espumas; a outra é a doida do bairro, girando oui-moi :)

um cheiro, do mar que estava quase negro.

João Quintino disse...

Adoro Blow-up, Moacy. Adoro o Balaio. Abraço!