sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A arte de
Maria Szantho
(1897-1998)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2901
Rio, 15 de janeiro de 2010

Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério - o único existente.
(Rainer Maria RILKE. Cartas a um jovem poeta, 1903-08,
trad. bras. Paulo Rónai, 1953)


UNICÓRNIO DOURADO
José Alcides Pinto
[ in A ilha dos patrupachas, 1960 ]

A Walmir Ayala


O mar não é tema: tema é o ar do do mar.
A poesia é didática - luz
sobre a história e esquecidos altares.
Toda estética; toda, puericultura
lagos oceânicos; ilhas, promontórios
as cidades primevas, o sangue dos herois
tudo fica muito aquém e além de tuas caldeiras.

De tuas membranas, de tuas
álgidas montanhas marinhas
surge o o unicórnio dourado
carregado de sonho e solidão.
E sobre as ondas aquece-se; talvez
esquecido do tempo; a que fim
este unicórnio soçobra-se de mim?

Plumas e pratas patas - unicórnio
um e único - mar
ô soberano rei dos sorvedouros!

[ cf. A poesia cearense no século XX, de Assis Brasil ]


DISPERSO - 5
Paulo Jorge Dumaresq
[ in Nariz de Defunto ]

Aquele desaforo escrito
num reles guardanapo
guardo-o até hoje,
ressentido,
sob sete mágoas.


EPITÁFIO PARA O AMOR
Maria Maria
[ in Espartilho de Eme ]

Enquanto o amor não morre,
sigo a linha
e não há trens
na estação.

Numa tarde indefinida:

Terei a chance
- ao menos a última –
de não chorar pela morte
daquele amor sem estação.


PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
ou
Os livros que me marcaram e ainda me marcam
(1/43)
Moacy Cirne

| Sem ordem preferencial |

Dom Quixote de la Mancha (Cervantes, 1605-15)
A divina Comédia (Dante, 1306-21)
Hamlet (Shakespeare, 1603)
Grande sertão: veredas (Guimarães Rosa, 1956)
A ave (Wlademir Dias Pino, 1956)
A educação pela pedra (João Cabral, 1966)
Crônicas marcianas (Bradbury, 1950)
Manifesto Comunista (Marx & Engels, 1848)
A água e os sonhos (Bachelard, 1942)
Vaqueiros e cantadores (Luis da Câmara Cascudo, 1939)

- Continua -


POEMA BREVE
W. H. Auden
Trad. José Paulo Paes, 1986

A esperança de um poeta: ser,
Como os queijos de certos vales,
Local, mas estimado alhures.


FEIRA DE CITAÇÕES LUMINOSAS

As pessoas mais interessantes são os homens que têm futuro
e as mulheres que têm passado.
(Oscar Wilde)

A palavra arrebenta o incomunicável.

O choro arrebenta o indecifrável.
(Jeanne Araújo)

Há quem diga que a escultura já existe,
adormecida, na pedra bruta.
Será que com os sentimentos é assim?
(
Sheyla Azevedo)

O amor não é mais do que um fogo que se transmite.
O fogo é um amor que se descobre.

(Gaston Bachelard)

... em última análise, todas as literaturas são de inspiração barroca.
(Pierre Macheray)

Quem vive sem loucura
não é tão sensato quanto imagina.
(La Rochefoucauld)

O que fascina no futebol é o jogo de paixões. Ninguém é lúcido, ninguém é sóbrio. O sentimento clubístico sobe à cabeça
na mais generosa embriaguez.

(Nelson Rodrigues)


TRAGÉDIA NO HAITI FOI "MAL MENOR"?

Segundo o bispo católico de San Sebastian (Espanha), conservador entre conservadores, maldito entre malditos, «existem males maiores do que o Haiti», tais como… «a nossa pobre situação espiritual». Leia aqui, a partir do blogue Diário Ateísta, as absurdas declarações do pseudo-religioso espanhol.


Atualização às 10:45h

ERVAS DANINHAS EM CARTAZ

Recomendamos, no Espaço de Cinema, sala 2, o mais recente filme de Alain Resnais: Ervas daninhas (2009). Para Ruy Gardnier, conceituado crítico d'O Globo, a obra merece cotação máxima. Gardnier vai mais longe: "Há 25 anos, seus filmes quase sempre utilizam temas banais para fazer delirar o cotidiano de seus personagens. De todos, Les herbes folles (no original) talvez seja o mais poderoso". Pretendemos conferir ainda hoje. No mínimo, o cineasta que realizou Hiroshima (1959) e Marienbad (1961), além de vários outros, merece todo o nosso respeito.

13 comentários:

Unknown disse...

Caro Cyrne,

Que bom saber que Crônicas Marcianas está entre os livros que lhe marcaram.

A mim também, embora meu Bradbury preferido seja um conto do livro Frutos Dourados do Sol.

Não lembro o título, mas a história é fantástica (literalmente): um homem viaja no tempo para participar de um safari, mata uma borboleta, e isso faz com que todo o futuro seja alterado. Quando ele volta, um fascista ocupa a presidência dos EUA, como efeito último da morte da borboleta.

Coisa de gênio, né?

Um abraço,
Maurício.

Marcelo Novaes disse...

Moa,




As citações são faíscas certeiras. Tenho certeza de que a biblioteca é porreta naquilo que dela já se deixa entrever: essa inaugural "estante de cabeceira".





Abração,








Marcelo.

Unknown disse...

Bom dia Moa!

Maria Maria..LINDO!

A biblioteca mais que perfeita, só faltando, para mim entre outros o CONCERTO A SOL ABERTO PARA SOLO DE AVES - Manoel de Barros

Citações fantásticas e certeiras.

E o Bispo doido da Espanha!

Belo Balaio!

Beijos

Mirse

líria porto disse...

eu (l)ia muito bem até chegar no bispo - me deu uma réiva!!!!!!!!

besos

*

Francisco Sobreira disse...

Meu caro,
Bom você relembrar Alcides Pinto, a quem conheci e que prefaciou o meu primeiro livro. E uma figura interessantíssima. E quanto a esse bispo, digo como minha mãe: Tibes! Um abraço.

Moacy Cirne disse...

Cara MIRSE:

A "minha" biblioteca será constituída de 430 livros; sem ordem preferencial, foram apontados, até o momento, apenas 10 livros. Decerto, haverá lugar para Manoel de Barros e muitos outros autores.

Um abraço.

Paulo Jorge Dumaresq disse...

Mestre, grato pela generosidade de publicar esse poema tão Disperso. Ótimos dias. Abs.

Paulo Jorge Dumaresq disse...

O Balaio, como sempre, olímpíco. Poemas batutas e uma lista de dar água na boca. Aguardo o restante da sua biblioteca básica.

Unknown disse...

Uma biblioteca a iniciar-se. Borges e a de Babel. Boa empreitada.

nina rizzi disse...

por nde começar? ômega: quando resnais chegar na minha pasárgada, talvez eu voe ellena.

hm. putz, seis dos meus livros, sem ordem de prefrência, estão aí.

gracias ao pinto. o cabra era certeiro. bem como maria szantho.

alfa: vermelho.
e um cheiro

José Viana Filho disse...

Bela Coletanea de poemas Moacyr

e o acima ta lindo!!!

BAR DO BARDO disse...

PJ arregaça...

Maria Maria disse...

Meu caro Moacy,

Obrigada pela postagem desse poema sem estação.
Quero dizer que José Alcides Pinto, meu amigo cearense, que se foi, deixou um livro chamado O ALGODÃO DOS TEUS SEIOS MORENOS. Nesse livro, o poema primeiro chama-se Partilha e eu o escrevi para a apreciação dele. Depois de lido ele o postou, pois era apaixonado pelas minhas poesias "sem freios". Senti muitíssimo a morte dele e guardo com gratidâo esse livro que tem a cor dos meus seios.

Beijos,

Maria Maria