sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Uma Olímpia moderna
(1872-73)
Paul Cézanne


BALAIO PORRETA 1986
n° 2916
Rio, 29 de janeiro de 2010

Esse quadro [Uma Olímpia moderna] guarda ainda uma forma romântica, mas a visão impressionista se revela através do jogo de cores luminosas e vibrantes. A obra traduz uma certa intenção irônica, não para com Manet, em quem Cézanne se inspirou, mas para com o próprio romantismo, que limitou seus passos durante anos. O homem representado em frente a Olímpia é, provavelmente, o próprio autor.
(Nina RIZZI, in Ellenismos, em 9 de novembro de 2009)


PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
( 29 / 43 )

Cartas sobre Cézanne (Rilke, 1907)
O paraíso de Cézanne (Sollers, 1995)
Uma temporada no inferno (Rimbaud, 1873)
Iluminações (Rimbaud, 1874)
Para ser caluniado (Verlaine, trad. bras. 1985)
Festas galantes (Verlaine, 1869)
Rimbaud livre (Augusto de Campos, 1992)
El problema de la legua poética (Tinianov, trad. esp. 1972)
Um lance de dados (Mallarmé, 1897)
Poesias (Mallarmé, 1899)

A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres.
(Stéphane MALLARMÉ, in Brisa marinha, cf.
Poesias, trad. A. de Campos)


IMPROVÁVEL
Nydia Bonetti
[ in Longitudes ]

outra vez estendo meus braços
e tento
tento tento tento tocar

- não posso

cada vez mais tudo se distancia

- e a vida

que sempre me pareceu
intangível
agora - me parece improvável


PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
( 30 / 43 )

Belo Belo (Manuel Bandeira, 1948)
Vaga música (Cecília Meireles, 1942)
Jeremias sem chorar (Cassiano Ricardo, 1964)
Pauliceia desvairada (Mário de Andrade, 1922)
Paulisseia ilhada - Sonetos tópicos (Glauco Mattoso, 1999)
Antologia poética (Castro Alves, org. 1975)
Palavra (Armando Freitas Filho, 1963)
Anatomias (José Paulo Paes, 1967)
Obras em dobras (Sebastião Uchoa Leite, 1988)
O livro da agonia (Hildeberto Barbosa Filho, 1991)


TOCATA EM FUGA
Hildeberto Barbosa Filho
[ in O livro da agonia, PB, 1991 ]

Minhas mãos
não alcançam o silêncio
das manhãs.

O dia escorre,
torto,
pelos meus dedos.

O mundo,
matéria prima,
não me é dado retê-lo

e vai e se esvai
pelo meu olho adentro
como a agonia de um camelo.


PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
( 31 / 43 )

O apanhador no campo de centeio (Salinger, 1951)
Nove histórias (Salinger, 1953)
Curso de linguística geral (Saussure, 1915)
Totem e tabu (Freud, 1913)
A função do orgasmo (Reich, 1926)
Ideologia e utopia (Mannheim, 1929)
O novo espírito científico (Bachelard, 1934)
Os princípios da psicologia das formas (Koffka, 1935)
Coleção da Revista da Antropofagia (SP, 1928)
Coleção da revista Senhor (RJ, 1959-64)


BRANCO
Dade Amorim
[ in Inscrições ]

sete palmos de silêncio
nas planícies da memória

histórias nuvens ao vento

sem nome nem endereço
começos em andamento
perdidos num chão sem rastros
no mastro sem documentos
a palma da mão sem traços

uma canção que não canta
sem letra nem partitura
dói como uma cicatriz


PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
( 32 / 43 )

Insônia (Graciliano Ramos, 1947)
Em liberdade (Silviano Santiago, 1981)
Desabrigo (Antônio Fraga, 1945)
Pour Marx (Althusser, 1965)
A arqueologia do saber (Foucault, 1969)
Tristes trópicos (Lévi-Strauss, 1955)
Eros e civilização (Marcuse, 1955)
História do marxismo, 9 (Hobsbawn, org., ed. bras. 1987)
Índios do Açu e Seridó (Olavo de Medeiros Filho, 1984)
Antologia da alimentação no Brasil (Câmara Cascudo, 1977)


LUAS
Iara Maria Carvalho
[ in Mulher na Janela ]

põe-me no ventre
coisas miúdas
e castanhas

que te absolvo
do linho rasgado.


CORTE RECORTE ATALHO RETALHO
Betina Moraes
[ in Sensytiva ]

Costura a boca
Tecido de pele
Sobre as veias
A língua agulha.

9 comentários:

Jarbas Martins disse...

O quadro de Cézanne é deslumbrante.A leitura que a Nina faz é luminosa.Como as vélicas vogais acesas do seu nome: NINA RIZZI.

nina rizzi disse...

e eu achava, no meu ridículo achismo, que não curtisse o Cézzane... rsrsrs... não sei exatamente porquê, mas achava. bem, toda envaidecida aqui; é melhor que figurar na revista brasileira de artes plásticas, aquela chatice enfadonha...

então, fico com a tocata, que estou em fuga. da sua biblioteca, ó santificado ducado, fico com... levo tudo, leio tudo e àquelas bibliotecas de exibição, que se aproprie o povo, rebentando os latifúndios do saber...

um beijo, um beijo :)

nina rizzi disse...

ah! quando escrevi sobre a Olímpia, o fiz por causa do suposto Cézanne: ele não é a cara do Karl Marx?

Eleonora Marino Duarte disse...

mestre,

Paul Cézanne,

suas sagradas escrituras em biblioteca, imperdíveis tesouros,

rilke, mallarmé, rimbaud,verlaine, augusto de campos, sollers,Salinger
Saussure
Freud,
Reich,
Mannheim
Bachelard, Koffka, Manuel Bandeira
Cecília Meireles, Cassiano Ricardo,Mário de Andrade, Glauco Mattoso,Castro Alves,Armando Freitas Filho,José Paulo Paes, Sebastião Uchoa Leite,
Hildeberto Barbosa Filho,
Graciliano Ramos, Silviano Santiago,Antônio Fraga,Pour Marx, Foucault,Lévi-Strauss,Marcuse, Hobsbawn,Olavo de Medeiros Filho,
Câmara Cascudo,

seus poetas

Nina RIZZI
Iara Maria Carvalho
Dade Amorim
Hildeberto Barbosa Filho( pela segunda vez)
Nydia Bonetti

e
eu entre.


obrigada por me enfeitar com tantas jóias.


um beijo!

dade amorim disse...

Nem sei por onde começar, Moacy.
Teho a impressão de que de uns tempos pra cá o interesse pela arte (poesia inclusive) ganhou força. Pode ser que o nome dessa força seja internet; mas se não houvesse gente como você, as malhas da rede não rendiam tanto. Menino bom.

Beijo beijo todo contente.

Unknown disse...

Não esperava outra postagem e me deparei com essa maravilha!

Paul Cézzane, um dos meus preferidos.
Ellenismos de Nina, vicia.

Biblioteca aux concour!

Nydia Bonneti
Hildeberto Barbosa Filho
Dade Amorim
Yara Maria Carvalho
Betina Moraes

...formam um todo em beleza poética


Beijos

Mirse

Unknown disse...

Cézanne sob a ótica de Nina é muito bom. Versos e Mallarmé e eu não li todos os livros.

nydia bonetti disse...

Como a Dade, também tenho a clara sensação deste "renascimento" do interesse pela arte e literatura, especialmente pela poesia. Nossa... como isto me deixa feliz.
Com certeza, a internet tem a ver com isso tudo. E espaços como o Balaio são essenciais.

Menino bom (2)... :) Beijo!

Iara Maria Carvalho disse...

Menino bom (3)...:)

Generoso com todos nós, pobres mortais.

Esse Balaio é uma riqueza que só!

Beijão!