quarta-feira, 17 de março de 2010

Angola que te quero Angola:
Humpata, Lubango
Foto:
Kodilu

[ Nossos agradecimentos a
Namibiano Ferreira,
pelas indicações das fotos de
Kodilu / Kostadin D. Luchansky ]


BALAIO PORRETA 1986
n° 2963
Natal, 17 de março de 2010


TEXTOPOEMA
Mariana Botelho
[ in Suave Coisa ]

o poeta é um mar de si mesmo.


Publicada na revista Senhor de abril de 1962
A ENTREVISTA DE ANTONIO MARIA
COM VINICIUS DE MORAIS
que resultou no
DECÁLOGO DO POETA PARA A MULHER AMADA

"1 - Amar a mulher amada sobre todas as coisas.
2 - Não tomar o seu santo nome em vão,
e não brincar em serviço.
3 - Guardar todos os domingos para ela
e fazer-lhes milhões de festas.
4 - Ser um pouco pai dela e ela um pouco a mãe da gente.
5 - Só matá-la de amor, ou por amor.
6 - Pecar o mais possível contra a sua castidade.
7 - Nunca furtar para dar-lhe coisas.
Furtar é um crime vil
e a mulher que ama precisa respeitar o seu homem.
8 - Ser absolutamente discreto em tudo
que se relacione à mulher em geral.
9 - Fazer toda a força possível para não desejar
a mulher do próximo.
O preço do amor é uma eterna vigilância.
10 - Não cobiçar as coisas alheias,
pois à mulher que ama, basta-lhe o amor do ser amado".


UNIVERSO
Juan Ramón Jiménez
Trad. Manuel Bandeira
[ in Poemas traduzidos, 1956 ]

Teu corpo: ciúmes do céu.
Minhalma: ciúmes do mar.
(Pensa minhalma outro céu.
Teu corpo sonha outro mar.)


SEM CERIMÔNIA
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]

ele me quis - entreguei-me
ofereci-me em bandeja


cheirou-me lambeu-me
partiu-me em mil pedaços
e sem usar guardanapo

comeu-me

deixou o resto
às baratas

: os ratos tiram proveito


O SUBPENSAMENTO VIVO DE
MARCONI LEAL

/Dois fragmentos/

A história é sempre contada pelos vencedores. Vejam, por exemplo,
o diabo como foi injustiçado.

Durante décadas tentei manter um diálogo com deus. Desisti faz alguns anos. Não dá. Ele se acha muito superior.


LÚDICA
Iara Maria Carvalho
[ in Mulher na Janela ]

escrevo
com a
musculatura
alegre
e oriental
de quem
descansa
sobre o verbo
e entre as flores.


ELOGIO A ELE
João da Mata Costa

“Dá-me um beijo onde o sol não bate”
A Celso da Silveira e Zé Limeira

Oh! Doce cú que encanta
Na vida tu vens atrás
Mais fede a boca que zanga
Que os flatos que dás

Quevedo já te cantou
As graças e desgraças
Belo mais que os da cara
Não comete indiscrição

[ Leia o poema na íntegra clicando aqui ]


RECOMENDAÇÕES ATEMPORAIS
DO BALAIO

Cinema:
Clique aqui
para verouvir
os 7'22" iniciais de
Mon oncle / Meu tio
(Jacques Tati, 1958),
uma das mais belas e sensíveis
comédias da história do cinema francês:
um filme para os que amam a vida
e a simplicidade dos pequenos/grandes gestos -
olhares, mãos que sonham, cantares.
Estejam próximos. Ou distantes.
Afinal, "Quanto mais poético, mais verdadeiro"
(NOVALIS, cf. Berilo Wanderley, sobre o filme de Tati).

23 comentários:

Jarbas Martins disse...

Destaque para dois poemas: Universo, tradução criativa de Manuel Bandeira, a partir de um poema de Juan Ramón Jiménez; e
Sem Cerimônia da competente poeta, que é Líria Porto. Ambos mantém o
alto nível, no campo da arte poética, do nosso Balaio.

líria porto disse...

obrigada, moacy - e que delícia rever fragmentos de meu tio! voltei à terra natal, ao cine rex!

ah - obrigada, jarbas!

besos

Unknown disse...

Ao vencedor, as batatas. A história é um compendio dos vitoriosos. Sobre Ele ninguém fala ou escusa falar, Da Mata não. O décalogo de Vinicius: o preço do amor é uma (e)terna vigilancia. Abraço.

Pedrita disse...

com vc aprendi a conhecer os belos poemas de líria porto. beijos, pedrita

Francisco Sobreira disse...

Caro Moacy,
Mais uma bela e expressiva foto - o que tem se tornado uma encantadora rotina em seu blogue. Do decálogo do Poetinha, gostei especialmente dos sétimo e oitavo mandamentos. Agora, velho, é impossível seguir o nono. Um abraço.

.maria. disse...

ótimas escolhas, até a ordem está perfeita. abraço!

nina rizzi disse...

Sincronia: eu também usei "Mon Oncle", mas outros fragmentos, apesar de adorar os cachorrinhos e esse jeito que eles têm de cheirar, revirar as latas.

Do décalogo, diferente de todas outras vezes que o li, desta feita ative-me ao 3º item, tão sacro, não? e ainda tem gente que é ateu/eia...

Bandeira, Líria, DaMata, Nanuda e eu, lá em Luanda, que é o nome da minha neta.

Um bom dia.

J.F. de Souza disse...

Sempre bom visitar o Balaio! Me enriquece a alma!

1[]!

Anônimo disse...

Las manos e los hermanos. Novalis e una mujer na janela, como yo e muchos nosotros. Buenas.

Aledis

Unknown disse...

Oi Moa!

Vinícius eternamente!

Líria e os demais poetas, meus parabéns!

Volto depois para ver o filme.

Beijos

Mirse

Marcelo Novaes disse...

Moa,



Espetacular a foto!


O "poetinha" era cheio de manhas, e soube fazer seu bom decálogo. Não brincou em serviço. Jiménez e Bandeira são dois clássicos merecidos, que se deram as mãos, como acontece com os clássicos, de vez em quando.


Líria Porto nunca teve cerimônia.



;)







Abração.

Adriana Godoy disse...

O poetinha sabia das coisas( mesmo que muitas mulheres digam o contrário). Líria arrasou, o Balaio tá infernal. beijo.

.maria. disse...

com certeza, fico lisonjeada com a sua leitura.

Jarbas Martins disse...

ah, moacy, foi mais que necesário lembrar o meu maria.

ninguém me ama, ninguém me quer
ninguém me chama de baudelaire.

nina rizzi disse...

Jarbas, vc é meu Baudelaire.

Jarbas Martins disse...

nina minha flor do mal

xeros

DAMATA disse...

Caro Jajá

ainda parafrasenado A. Maria:

Dorme, menino grande

Que eu estou perto de ti

Sonha o que bem quiseres

mesmo que seja Baudelaire

DAMATA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Provocação:
Caro Moacy. Desulpe o atraso mas não resisti á sua bela provocação.
Provocação que volta e meia vem à tona.
Tb nao concordo com as provocaçoes do Décio. Que Nizia foi um prostituta e nao tinha como sobreviver na Europa durante tanto tempo. Nizia foi grande, sim


Nísia Floresta Brasileira Augusta

Grande e Augusto Natal,

Fosse outro país estava levantando monumentos e louvando a historia dessa educadora, escritora, feminista e poetisa brasileira nascida na zona rural de Papari, na bela Nísia Floresta - onde vamos comer camarão, estado do RN. Brasileira? sim. Norteriograndense? sim.
Todos os grandes países procuram seus filhos ilustres para poder louvá-los. Aqui nós os expulsamos, vivos e mortos.
Nísia nasceu pertinho de Natal. Zila nasceu na Paraíba e viveu no RN. Amou esse estado e fez o melhor trabalho já feito em honra de seu filho mais ilustre: Luis da Câmara Cascudo.
Cheirou esse estado e namorou suas praias, becos e gentes. A biblioteca da UFRN chama-se Biblioteca Central Zila Mamede. Zila é parte da nossa cultura, assim como outros grandes nordestinos paraibanos, pernambucanos, etc. São muitos os nossos artistas vindos de outros estados e que aqui ficaram, casaram se amigaram e viveram felizes.
A invenção no nordeste, diz o nosso colega historiador Durval, é coisa recente. Um dia desses pertencíamos a Pernambuco. Essa divisão é besta. Quero todos eles para mim. Tomara que o Monteiro arranje um negócio por aqui e venha morar na taba de poty, vendo o Potengi e freqüentando o Pub (ops) do Jairo. Todos irmãos queridos. Somos uma coisa só, e a divisão está nas cabecinhas de alguns que podiam pensar em coisas maiores.

Damata

Dilberto L. Rosa disse...

Tens razão: "Meu Tio", na minha modesta opinião, é o melhor filme de Tati! Belíssimo e hilário! E Antônio Maria e Vinícius também tinham razão: sempre adoro reler esta "aula"... Grande abraço, meu caro!

Marco disse...

Ah, que saudades daqui...
Pois é, caro mestre Moacy. Estou voltando aos poucos. Ainda não termionou o projetão em que estou envolvido, mas as saudades foram tantas que não resisti. E ler o balaio é fundamental para a mente, corpo e alma. E esse poema em homenagem ao roscofe? E o decálogo da mulher amada do Vina? Isso é coisa muito fina, seu moço!
Parabéns por manter a qualidade habitual do seu blog. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

Canto da Boca disse...

Para quem é apaixonada por Tati, como eu, fico encantada mais ainda com e nesse Balaio!
Além dos textos e a imagem de Angola.

Abração!

oscar kellner netto disse...

caro moacy:
depois de um tempão te reencontro firme e rijo, mão na massa sempre... bom gosto nunca acaba!
segue aí um atalho para meu novo livro, de 2010 (ficção):

http://www.clubedeautores.com.br/book/14325--OS_AMARRADORES_DE_PATAS

aliás, se puder, confira os meus lançamentos de 2009:

http://www.clubedeautores.com.br/search?hat=oscar+kellner+neto&commit=BUSCA


poderia lhe mandar um poema do MURAL...


RECADO
para márcio almeida, crítico


sim
comigo me habituei
mas
já livre das amarras
sulcos da rotina
tempo apagará

sim
tirei a máscara
do poeta:
no meu rosto
um semblante
literariamente
acuado

mas
esse paiol mineiro
ah minas
grande
glande
poética