terça-feira, 23 de março de 2010

A modelo Elisabetta Canalis
via
Milton Ribeiro


BALAIO PORRETA 1986
n° 2969
Natal, 23 de março de 2010


ESCURIDÃO
Lisbeth Lima
[ in Vasto, 2010 ]

Foi a tua boca que busquei,
na noite escura, quando me senti só.

Foi o teu beijo que me iluminou
até que eu encontrasse a luz do dia,
outra vez de olhos abertos.

Atenção:
Vasto, editado pelo Sebo Vermelho,
será lançado amanhã, na
Aliança Francesa, na Praça Pedro Velho, Natal,
a partir das 19 horas.


$EM TÍTULO
Clique aqui, para verouvir, no Via Política.
um dos mais surpreendentes e poéticos
curtas de Luiz Rosemberg Filho:

a crítica política e social na
voz de uma criança.

Sua delicadeza extrapola o próprio cinema
como discurso estético: um $em título que tudo diz.
Ou como afirma o autor de Assuntina das Amérikas:
"Fluir as ideias, o olhar, as imagens e as diferenças."


UM DIA
Maykson de Sousa
[ in Café Mosaïque ]

Um dia
(que não seja em dezembro)
quero ouvir um prelúdio de Bach
e dormir.


PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
( 63 / 66 )

O banquete (Platão, c360aC)
Fédon (Platão, c360aC)
O país de outubro (Bradbury, 1955)
Contos completos (Wilde, ed. bras. 2004)
Memórias do subterrâneo (Dostoiévski, 1864)
Estrela da tarde (Manuel Bandeira, 1960)
Toda nudez será castigada (Nelson Rodrigues, 1965)
A menina do narizinho arrebitado (Monteiro Lobato, 1920)
Jerusalém libertada (Tasso, 1574)
A arte de amar (Ovídio, c1aC)


DAS IMPERFEIÇÕES
Nydia Bonetti
[ in Longitudes ]

sempre viveu
tentando ser perfeito

sempre exigiu perfeição

se encontra agora
(enfim)

na mais perfeita solidão


O AUSENTE
Márcia Maia
[ in Tábua de Marés ]

trazia sob a pele
o sol nascente

e tiritava de frio


BELO HORIZONTE
José Bezerra Gomes

Pardais
cantam
dentro da madrugada

Amanhecendo
todos
vão de encontro à vida


Repeteco
A ESTRADA
Moacy Cirne

Sinto o primeiro impacto. De imediato, sou dominado por inesperada quentura nas costas. Mas consigo correr. E corro. Um segundo impacto me atinge. Preciso correr, mais ainda. Um rio me aguarda, à esquerda. Mergulho nele. Suas águas me envolvem com certa doçura. Mas de onde surgira aquele rio, em plena Glória, entre a Lapa e o Catete? Não importa; o que importa é que estou a salvo. O calor aumenta. Ouço os sinos da igreja mais próxima. Uma voz de rapariga me chama. Ambrósio, Ambrósio, cuidado com a ponte, não se deixe enforcar. O fogo me queima por dentro. Não sei nadar, lembro-me de repente. O que está acontecendo, então? Só sei que não existe mais qualquer sinal de rio; estou numa estrada de tijolos amarelos, familiar cena de filme antigo. Caminho com passos lentos; o calor que me domina é intenso. Pressinto que minhas roupas estão encarnadas. E encarnado é o meu cordão, em disputa contra o cordão azul. Sou uma criança apaixonada pela rainha do Encarnado na cidade da minha infância. Carlitos, o Gordo e o Magro me fazem companhia, sorrindo. Durango Kid aproxima-se: Não se preocupe, estou aqui para defendê-lo dos bandidos. Estou aqui para salvá-lo das balas perdidas. Confie em mim. Olho para o meu avô, com sua ternura sem fim. No caminhão da feira, cortando o cheiro da manhã carregada de mangas e esperanças, contamos os jumentos à beira da estrada, a mesma estrada de tijolos amarelos. À esquerda e à direita vemos jumentos tristes e honestos. São dezenas, são centenas deles. Estranho, parecem pássaros que não sabem voar. Quem ganhará a aposta? O feirante bêbado de auroras garantindo que à direita do veículo, beirando a estrada, maior seria o número daqueles pobres e inevitáveis animais? Ou vencerá o outro? O outro não sou eu; eu sou aquele que precisa mergulhar no Poço de Santana, no final da estrada. Mas o Poço está longe, muito longe. Nunca fiz um filho. Nunca plantei uma árvore. Nunca escrevi um livro. Nunca entrei num túnel tão comprido. E as coisas estão ficando cada vez mais nebulosas. Além, já noite, do alto do coreto da praça, Luiz Gonzaga acena para mim. Asa branca, assum preto, légua tirana. Baião-de-dois. Baião-de-três. Baião-de-cinco. O império submarino. Flash Gordon no Planeta Mongo. A volta do Aranha-Negra. Sansão e Dalila. Nunca houve uma mulher como Gilda. Os melhores anos de nossas vidas. Belinda. O barco das ilusões. Amar foi minha ruína. Dois palermas em Oxford. Paraíso proibido. Tarzan e as amazonas. O império das ilusões. O Aranha-Negra no Planeta Mongo. Sansão, Gilda, Belinda e Dalila. Nunca houve uma mulher como Tarzan. Estou cansado. O chão da Glória tem gosto de sangue e sertão. Preciso dormir.

15 comentários:

Unknown disse...

A foto e A estrada: duas luas a se perder, dois mergulhos em sonho profundo, dois sortilégios reinventados, dois olhos negros a contemplar, duas doses e um brinde. Abraço.

Mariana Botelho disse...

Moa,

lindíssimo o balaio hoje. Amei a foto, o poema da Nydia é um encanto e seu texto impecável.

beijos

nina rizzi disse...

me atenho à biblioteca: estrela da tarde; o banquete, fédon e a arte de amar, sobre os quais já escrevi; toda nudez será castigada, eu que a representei que o diga; e, porra, memórias do subsolo é meu livro preferido em muitas horas, como esta.

sim, gostava de prestigiar a Lisbeth.

e vou ouvir os prelúdios de Chopin. agora mesmo.

inté.

DAMATA disse...

Kurosawa: um século de um gênio do Cinema
para Moacy

A vida é tão curta, / se apaixone querida donzela, / enquanto seus lábios ainda são rubros. Viver 1952

O maior diretor de cinema japonês e um dos maiores do mundo completa 100 anos. Seus filmes fazem sonhar e são partes da antologia fílmica mundial. O mundo passou a conhecer o Japão mítico e profundo dos samurais, a partir dos filmes do Kurosawa. Dirigiu grandes obras primas como Viver, Rashmon, Ran, Dersu Uzala, Kagemusha, Trono Manchado de Sangue, Dodeskaden , Yojimbo, Os sete Samurais e Anjo Embriagado.
Foi um apaixonado pela literatura russa e fez “O idiota” baseado em Dostoiévski e Ralé em Gorki. Tinha paixão pelos livros e thriller de Geoges Simenon. Baseado no Macbeth de Shakespeare dirigiu o belíssimo “Trono Manchado de Sangue”.
O mais importante não é o porquê, mas o como.
“ O modo com a coisa acontece pode não mostrar nada da coisa em si, mas mostra obrigatoriamente algo sobe as pessoas envolvidas no acontecimento e que fornece o como”
Apesar de sua grande estima por Dostoievski – “é o escritor que escreve com maior honestidade sobre a existência humana’- o Idiota, não é o seu melhor filme. Um dos seus maiores filmes de Kurosawa é Viver e seus flash – backs. Diretor de alguns dos maiores atores do cinema Toshiro Mifune e Takashi Shimura.
Dirigiu o belo Rashomon, vencedor do Festival de Veneza de 1951, baseado em contos do grande escritor suicida Ryunosuke Akutagawa. O que o escritor quis dizer é que a verdade é relativa, com o corolário de não haver verdade alguma. E que cena magistral: A velha rouba os cabelos dos cadáveres. Ela diz que rouba apenas para sobreviver fazendo perucas dos cabelos roubados. O servo, decide transformar-se em ladrão, a derruba levando suas roupas e dizendo que a desculpa também valeria para ele.
Dono de uma pontuação e cortes magistrais do cinema em belos wipes e grandes fades elegíacos, foi um dos maiores cineastas de todos os tempos e elevou o cinema á condição de uma das mais belas artes. Arte que faz sonhar e refletir sobre o grande mistério que é VIVER.

Pedrita disse...

eu amo memórias do subsolo. manuel bandeira nem se fala. amo o filme toda nudez. e o monteiro lobato. beijos, pedrita

Jens disse...

Oi Moacy.
É bom retornar à blogosfera e reler um texto de tua autoria, com a qualidade de sempre; ter notícias de CDC, lá do Além e, claro, retomar o contato com a boa poesia.
Só um reparo: segundo conceituados historiadores gaúchos, antes do Fla-Flu houve o Gre-Nal.

Um abraço.

Jaebas Martins disse...

QUE BOM VISITAR TUA BIBLIOTECA PORRETA E ENCONTRAR A ARTE DE AMAR,
DE OVÍDIO...

Jarbas Martins disse...

Que bom visitar tua biblioteca porreta e encontrar a Arte de Amar
de Ovídio.

Mme. S. disse...

Caramba, dá para sentir o calor se dissipando no delírio e na memória de Ambrósio. "A estrada" é mais um grande motivo para eu te admirar tanto assim.
Um beijo meu amigo, S.

Vais disse...

Saudações Moacy,
belíssima a foto e os tons
do começo ao fim,
e n'A Estrada, fecha a maravilha desta postagem
Parabéns!
abraço e tudo de bom

Carito disse...

bela elisabetta, poemas vastos... e que bom encontrar um texto seu no balaio... um texto não, um filme! viajei nessa estrada cinematográfica...

Eleonora Marino Duarte disse...

mestre,

primeiro o seu texto...

que construção maravilhosa! a forma, a criação e toda a emoção conjugando uma aula extra sobre como envolver o leitor. perfeito.

a foto.. que moça bonita!

o poema de nydia é excelente,

marcia maia eu não conhecia, gostei do jogo que ela fez, muito bom,

josé bezerra gomes, delicada paisagem,

lisbeth lima, intensidade e paixão, fiquei fã.

belo balaio!

um beijo.

Lisbeth Lima disse...

Moacy,
obrigada pela divulgação do meu livro. Parece que vai ser uma festa bonita! Vamos brindar VASTO!
Um abraço,Lisbeth

nydia bonetti disse...

Demorei, mas cheguei. Obrigada, Moacy. Sempre bom estar aqui. Gosto demais da poesia da Lisbeth. Desejo sucesso!!! beijos!

Marcelo Novaes disse...

Moa,




A biblioteca é sempre boa. A estrada é longa e rica. Bach fazia música como geômetra.





Abração.