quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Há blocos e blocos no Rio. Alguns, por sua alegria contagiante, merecem a minha/nossa simpatia (Gigantes da Lira e Imprensa Que Eu Gamo, em Laranjeiras; Suvaco de Cristo, no Jardim Botânico; Cordão do Bola Preta, na Cinelândia; Escravos da Mauá, na Zona Portuária). Outros, por seu apelo turístico, merecem a minha/nossa distância. Mas tudo é carnaval. E um bom carnaval não pode dispensar frevos e marchinhas. O resto é o resto: miolo-de-quartinha pra inglês ver.


BALAIO PORRETA 1986
n° 1955
Rio, 14 de fevereiro de 2007
Poema/Processo, 40 anos

Contato: balaio86@oi.com.br


A CAMINHO DE NATAL

Dentro de poucas horas estarei em Natal. Para mais uma temporada. Para mais um reencontro com as minhas raízes nordestinas. E seridoenses. Como sempre, não é possível garantir a regularidade das edições do Balaio. Uma, duas, três vezes por semana? De qualquer maneira, na dúvida, um bom carnaval para todos. Ao som de frevos e marchinhas.

Memória

BALAIO PORRETA
Natal, 25 de dezembro de 2005


Uma história real
UM BAR MUITO ESTRANHO

Hoje, 25 de dezembro, logo cedo, resolvi caminhar pelas ruas quase desertas do bairro de Lagoa Nova, aqui em Natal. Padarias fechadas, cigarreiras sem vida, nenhum movimento em muitos e muitos quarteirões. Mas eis que de repente, na esquina da São José com a Antônio Basílio, vejo um estabelecimento aberto. Animei-me. Entrei pela larga porta com cara de tentação. Um frízer oferecia-se ao primeiro freguês da manhã com suas cervejas gloriosamente geladas; não deixava de ser algo promissor. Ao lado, duas ou três prateleiras mostravam-se generosas com garrafas de cachaça, conhaque, vinho, uísque, o diabo. É verdade que a cachaça à venda não era das melhores, o conhaque parecia ser de quinta categoria, o uísque e o vinho talvez fossem falsificados. O ambiente também cheirava a algo diferente. Não importava. Aproximei-me da mocinha atrás do balcão:
-- Bom dia, minha prezada garçonete, gostaria de beber algo. Mas cadê as mesas? E as cadeiras? Adoraria beber sentado, com bastante calma.
A moça parecia espantada:
-- Não sou garçonete...
-- Não? Poderia chamar o garçom para me atender, então?
-- Aqui não trabalha nenhum garçom...
-- Puxa vida, que bar estranho: não tem garçom, nem garçonete, não tem mesas, nem cadeiras. E é muito grande para ser um buteco.
-- Mas...
-- Mas o quê, minha jovem, só falta você afirmar que este é um bar sem copos para servir o uísque, por exemplo. Como devo bebê-lo? Só quero uma dose, no capricho. E já que não tem garçonete, ou garçom, você pode prepará-la para mim?
-- Bem, na verdade... -- impacientou-se a jovem.
Um silêncio de rachar auroras nos dominou, por alguns segundos.
Prossegui:
-- Vejo agora, com mais atenção, que há prateleiras com remédios. É a primeira vez em minha vida que entro num bar com dezenas e dezenas de produtos farmacêuticos.
A mocinha apressou-se:
-- Meu senhor, isto aqui é um...
-- Ah, já sei, é um bar pós-moderno.
-- NÃO!
Do fundo do estabelecimento, apareceu um rapaz.
-- Viva, viva! Finalmente, o garçom! Eu sabia que tinha pelo menos um garçom!
-- Como assim?
-- Pois é, meu amigo, já deu para perceber que o bar aqui é estranhíssimo, mas por favor me consiga uma mesa e pelo menos uma cadeira para que eu possa beber meu uísque em paz. Será o meu café da manhã.
-- Como assim?
-- Que coisa... Assim não é possível, meu amigo, que droga de bar temos aqui? Onde já se viu? Estou decepcionado com vocês. Não o recomendarei a nenhum amigo, que bar mais sem graça. O próprio uísque à mostra não parece ser grande coisa. Que bar mais sem graça, repito. Aliás, acabo de ver que o seu nome também é bastante estranho: DROGARIA SANTA FÉ.


UM DISCO PORRETA
Mestres da MPB: Emilinha Borba
,
incluindo Escandalosa, Chiquita Bacana, Tomara que chova
[ Continental 995468-2 (cd 1994) ]

6 comentários:

Anônimo disse...

Já tinha lido, Moacy, essa historinha, mas reli com o prazer e o interesse daquela vez. Uma boa viagem e uma boa permanência aqui. Um abraço.

Anônimo disse...

Puca Moacy, comprei um vinil da Emilinha num brechó e dei de presente para o meu avô, e no final das contas qum escuta sou eu...
ae!
felipeludio.blogspot.com

Anônimo disse...

Meu caro Moacy,
De volta ao Natal. Que bom! Que seja bom, mais que!
Gostei muito do "Bar Muito Estranho" e da recomendação do "Disco Porreta.
No mais, reiterar o desejo acima: Que seja boa a permanência entre os seus!
Forte abraço.

Anônimo disse...

pronto, moacy. também vou pra natal. arribo no domingo de carnaval e fico até meados de março, temporada acariense incluída. quem sabe a gente se encontra pelaí, né?

Iara Maria Carvalho disse...

sua postagem me lembrou uma canção linda do edu lobo: "hoje não tem dança, não tem mais menina de trança, nem cheiro de lança no ar..."
que bom que está respirando ares potiguares...
bom carnaval então!

beijos...

Anônimo disse...

Moacy: muito bom o conto Um Bar muito estranho. Você poderia nos brindar com histórias assim com mais frequência (aposto que tem um monte na gaveta, ops, nos arquivos do PC, como convém nesses tempos modernos). Nós, leitores, ficaríamos gratos.
Uma boa e proveitosa estadia em Natal.
Um abraço.