terça-feira, 12 de junho de 2007

[] Há padres que falam em Deus com tal convicção que
a gente se convence de que Deus não existe.
[] Com esse mundo desgraçado, e cada vez mais, em que fomos condenados a viver, uma coisa é certa: Deus não merece existir.
[ Millôr FERNANDES. A bíblia do caos. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2002, p.159 ]


BALAIO PORRETA 1986
nº 2035
Natal, 12 de junho de 2007


ALUCINAÇÃO MOLHADA
Poema de Lívio de Oliveira (RN)

Não ficarei atento,
nem me ocuparei com a chuva,
já que mantenho
em meu peito doído e morno
a eterna ilusão de te possuir.
Guardarei, sim, os movimentos
de teus pés inquietos,
artelhos, ancas e joelhos.
E serei indormido vigilante
do ziguezaguear de teu pescoço
desnudado.
A artéria delicada pulsa
todo o sangue
que te alimenta
e que escorre pelo lábio
no êxtase da longa noite
– caça, golpes certos,
intensos, profundos –
e os dentes se arremessam
na penetração anatômica
exata de outra tua irmã,
tão livre, tão vampira,
com quem estive há pouco.
De teu vôo surge
única e verdadeira revolução
de onde desponta,
insólito,
quase móvel,
atrevido invasor.
Um leve sinal negro
cresce em formas
as mais estranhas,
as mais bizarras,
formando um ser gigante,
uma fêmea superior,
pálida,
pálida,
linda,
linda,
com a boca derramando
líqüido rubor.
Os cabelos,
rédeas que prendo a uma só mão,
guiam-me para um espaço
abstrato, etéreo.
Ali, numa dimensão
que desconheço,
inebriado,
conforto-me da madrugada
fria, fria, fria,
acreditando que tua sedução
e teu pouco calor
serão, mais tarde, minha toda

(porém improvável)
salvação.

[ Veja outros poemas de Lívio de Oliveira
no Grande Ponto, de Alex Gurgel ]


À ESPERA DE EULÁLIA
(La masturbation)

Mariza Lourenço

Era um ritual quase sagrado, aquele, de lavar as partes baixas enquanto aguardava Eulália. Fizesse chuva ou sol, ainda que ela não aparecesse ou que nada mais acontecesse, além de uma boa beberagem de chá. E isso, talvez fosse tão importante quanto a visão de Eulália abrindo o pequeno portão de ferro. Dava-lhe prazer a espera, perfumada pelo sabonete de malva. Excitavam-no as mãos que lavavam o falo, repuxando-lhe a pele sobre a glande.

Sim... E depois, Eulália. Ou o chá.

7 comentários:

Anônimo disse...

Belos demais os dois: o poema de Lívio e o conto de Mariza, minha gêmela querida.

Beijo daqui, onde chooooveeee.

ps- pense o quanto nós, tricolores daqui, gostamos da vitória do Flu sobre a Coisa!

mariza lourenço disse...

Moacy querido,

toda feliz, mais uma vez... *;)
o poema do Lívio é um escândalo de bonito.
obrigada e beijo, meu anjo.

mariza

Anônimo disse...

Moacy,

Os apaixonados hoje estão mais apaixonados...e você bate em nossa porta assim cedinho, nos despertando dessa sonolência a nos brindar com esse poema do Lívio! Valeu!Um bom dia para você também!
Abraços. Felipe, SM.

Anônimo disse...

Moacy, não tenho seu e-mail e o pc de ana tá com problema então resolvo enviar o convite poraqui mesmo, lá vai....
*******************
CONVITE AOS COLEGAS, ALUNOS E AMIGOS

e aos que simplesmente gostam de assistir execuções:



A defesa de minha tese “Rústicos cabedais: patrimônio e cotidiano familiar nos sertões do Seridó (século XVIII)”, ocorrerá no dia 12 de junho às 15h no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), Auditório C do NAPP da UFRN. Sejam bem-vindos.



Eis o resumo da tese:


Nesta pesquisa estuda-se a história da família nos sertões pecuarísticos da Ribeira do Seridó, região colonial entre as capitanias do Rio Grande do Norte e Paraíba. A problematização que escolhemos para enfocar o tema foi a constituição dos arranjos familiares através da relação entre o patrimônio (cabedal) e o cotidiano. Vasos comunicantes que possibilitam a compreensão de uma sociedade que se formulou nas franjas do antigo sistema colonial, mas que se articulava a ele. Sendo assim, intentamos entender como as famílias coloniais viveram e sobreviveram no semi-árido da América portuguesa do século XVIII. Estudar a família nestes espaços não hegemônicos do período colonial ainda é uma tarefa muito nova, posto que a ênfase historiográfica, comumente, era dada à zona açucareira próxima ao litoral pernambucano e baiano. Assim, desenvolvemos uma perspectiva que enfatiza os usos da cultura material na formação das famílias que viviam do pastoreio nas fazendas de criar gado nos sertões das caatingas seridoenses.

Banca examinadora: Profa. Dra. Julie A. Cavignac (Orientadora); Prof. Dr. Nathan Wachtel (examinador externo – Collège de France); Prof. Dr. Iranilson Buriti de Oliveira (examinador externo – UFCG); Prof. Dr. Alex Galeno (examinador interno – UFRN); Prof. Dr. Patrick Le Guirrieck (examinador interno – UFRN); Profa. Dra. Fátima Martins Lopes (suplente) e Profa. Dra. Maria Lúcia Bastos Alves (suplente); e mamãe que assistirá a tudo para impedir que eu fuja do sonho dela de ter um filho doutor!




Que seja a defesa seja rápida e sem dor.

Abraço todos,





Muirakytan K. de Macêdo

Anônimo disse...

Caro Muirakytan: Infelizmente, não pude ir. Que o sucesso seja total. Parabéns. E um grande abraço.

Anônimo disse...

Estou feliz pela boa repercussão da temática erótica, sobre a qual venho trabalhando a minha poesia recente.

Um abração para todos, um abração para Moacy.
p.s. Quanto ao livro de Muirakytan, penso que virá mais uma clássica sobre o povo e a região seridoense, a mais poética do meu Estado!

Anônimo disse...

Ih! Esqueci e apareceu anônimo!
Abração de Lívio Oliveira