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na visão de
Rockwell Kent,
em edição americana do
Moby Dick
nos anos 30 do século passado,
ilustração reproduzida na edição brasileira
da José Olympio (1º vol., p.355)
BALAIO PORRETA 1986
n° 2339
Rio, 13 de junho de 2008
Se me perguntassem qual foi o livro que mais me marcou os primeiros anos de leitura, eu responderia sem hesitar que esse livro foi Moby Dick, a história da baleia branca também chamada a Fera do Mar. ... E até hoje, passado tanto tempo, quando a maioria das leituras de meninice perdeu o seu encanto, e até Jules Verne se relê com certo tédio, Moby Dick mantém a sua singular capacidade de ser "redescoberto" a cada releitura, sempre mais fascinante, misterioso e terrível.
(Rachel de Queiroz)
A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS
Moby Dick [1851], de Herman Melville.
Se fôssemos apontar os 10 ou 12 maiores monumentos literários de todos os tempos, decerto não deixaríamos de lado o romance de Melville. A paulistana CosacNaify, por sinal, acaba de lançar bela edição do livro, em 656p., com tradução de Irene Hirsch e Alexandre Barbosa de Souza, e 15 ilustrações de Hare Lanz, uma delas, a da capa, a partir de gravura de Barry Moser, de 1979. Mas, apesar da cuidadosa fortuna crítica, e do seu estimulante aparato gráfico, ainda preferimos a sóbria edição da José Olympio, de 1957, em 2vol., totalizando 896p., com tradução de Berenice Xavier e prefácio de Rachel de Queiroz, onde se destacam as 266 ilustrações irretocáveis de Rockwell Kent, além de 14 desenhos de Poty.
Outras considerações se impõem: a leitura de um texto estrangeiro (ficcional, poético, ensaístico, filosófico) tem que levar em conta a tradução. No caso ficcional e/ou poético, a sua capacidade de recriar o original, tendo em vista as múltiplas particularidades lingüísticas e culturais do objeto traduzido, além de sua contextualização e, claro, da nossa especificidade literária e sociocultural. Como exemplo, e sem nenhum juízo valorativo, tomemos um dos momentos capitais de Moby Dick: o surgimento em cena do Capitão Ahab.
No original:
It was one of those less lowering, but still grey and gloomy enough mornings of the transition, ... Reality outran apprehensions; Captain Ahab stood upon his quarter-deck.// There seemed no sign of common bodily illness about him, nor of the recovery from any. ... or taking away one particle from their compacted aged robustness. (Barnes & Noble Classics, 2003, p.158)
Segundo Berenice Xavier:
Foi numa dessas manhãs de transição, menos encoberta, mas ainda bastante cinzenta e triste, que, ao subir ao convés, ao apelo da guarda do meio-dia, enquanto o navio cortava as águas com um vento fresco e com uma espécie de rapidez vingativa, saltitante e melancólica, dirigi o olhar para a amurada e senti um calafrio. A realidade ia além da apreensão; o Capitão Acab estava no convés.// Não havia nele indício algum de qualquer enfermidade corporal, nem também de convalescença. Parecia um homem que tivesse sido retirado de um poste, depois de ter o fogo corrido em vão todos os seus membros, sem os consumir ou levar uma partícula sequer da sua compacta robustez anosa. (José Olympio, 1957, p.222)
Segundo Hirsch & Souza:
Foi numa dessas manhãs de transição, menos ameaçadora, mas ainda cinzenta e escura, com um vento favorável e o navio cortando a água como que com saltos vingativos e rapidez melancólica, que eu subi ao convés para o turno da vigília matinal, e, ao levantar os olhos para as grades da popa, senti calafrios agourentos percorrendo meu corpo. A realidade tinha superado a apreensão; o Capitão Ahab estava em seu tombadilho.// Não se percebia nele nenhum sinal de enfermidade física comum, e nem de convalescença. Tinha o aspecto de um homem retirado da fogueira, depois de o fogo devastar todos os membros, sem os haver consumido, nem eliminado uma só partícula de sua compacta e velha força. (CosacNaify, 2008, p.141-1)
Só para completar, eis o final, com suas aliterações, antes do epílogo.
No original:
Now small fowls flew screaming over the yet yawning gulf; a sullen white surf beat against its steep sides; then all collapsed, and the great shroud of the sea rolled on as it rolled five thousand years ago. (p.654)
Na edição da José Olympio:
Pequenos pássaros voavam, gritando sobre o último bocejo da voragem, uma tétrica espuma bateu de encontro aos costados empinados e logo tudo se acalmou, e a grande mortalha do mar continuou a ondular, com a sua ondulação imutável, a mesma de há cinco mil anos. (p.892)
Na CosacNaify:
Pequenas aves voavam agora gritando sobre o golfo ainda escancarado; uma rebentação branca se abateu contra os seus lados íngremes; e então tudo desabou e o grande sudário do mar voltou a rolar como rolava há cinco mil anos. (p.591)
3 comentários:
Você sabe bem o que é melhor, mestre Moacy. Beijo.
Caro mestre Moacy, que beleza de post. E me fez lembrar do belo filme com o Gregory Peck como Ahab. Gostei das duas traduções, muito provavelmente porque o original é muito bom. E é mesmo. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.
Olá Moacyr,
não sei como vc achou meu blog, mas agradeço muito pelos comentários!
continue visitando!
beijos
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