Retrato de uma roqueira dos anos 70
na Caicó de Todos os Seridós
ou
Quem Medo da Mona Lisa?
por
Moacy Cirne
E mais:
BALAIO PORRETA 1986
n° 2457
Rio, 17 de outubro de 2008
Arquivos do Balaio
Quem vive sem loucura não é tão sensato quanto imagina. (La ROCHEFOUCAULD. Reflexões e máximas morais [1664-78]. São Paulo: Cultrix, 1962, p.66)
BALAIO INCOMUN n° 1937
Desde 1986
21 de janeiro de 2007
Tesourapress
HUMANO, DEMASIADO FRÁGIL
Sanderson Negreiros (RN)
[ in Tribuna do Norte, em Quadrantes ]
1. Conta-se que Padre Mota, experimentado conhecedor da natureza humana e que, durante a existência inteira, marcou a vida de Mossoró, certa vez recebeu no confessionário uma dama que, penitente, foi logo dizendo:
- Padre Mota, meu grande pecado é o orgulho.
O vigário, bonachão e curioso daquele testemunho tão veraz e eloqüente, foi perguntando:
- Minha filha, você é rica?
- Não, senhor.
- Você é bonita, elegante, charmosa?
- Não, senhor.
- Você é inteligente, tem cultura?
- Não, senhor.
- Me diga uma coisa: você é de uma família muito importante?
- Não, senhor.
E Padre Mota, do alto de seus sapatos de fivela - sapato de monsenhor protonotário apostólico - perdeu certa paciência magnânima e foi, como sempre, sincero e objetivo:
- Então, minha filha, você não é orgulhosa. Você é muito é da besta.
E anotemos na nossa agenda: quantas vezes na vida pensamos que agimos por orgulho, quando, na realidade, o que somos mesmo é donos da besteira universal, unânime e concreta. A besteira da arrogância.
2. Leio nas memórias de Vitorino Freire uma passagem deliciosa com Benedito Valadares, mestre da matreirice política de Minas Gerais. Certa vez, Vitorino, senador pelo Maranhão, mais o senador Gilberto Marinho, conversavam com Benedito, autor inclusive da famosa frase: "Estou rouco de tanto ouvir". O velho pessedista mineiro, que Getúlio retirou do anonimato de Patos de Minas, onde era humilde dentista, e o fez interventor por quase quinze anos. Consabidamente não falava, mas era de uma sabedoria política inquestionável. Dele também é a sábia advertência: "Só realize reunião quando tiver decidido tudo antes. Reunião é feita para aprovar". Certo dia, Benedito estava conversador mais do que a medida permitida pela prudência mineira. Vitorino e Gilberto Marinho ficaram em silêncio, vendo e ouvindo a desenvoltura do velho Valadares. Mas, mal discorria, Benedito pára e cala. Vitorino interroga:
- Benedito, por que você parou de falar?
E a matreirice responde:
- Parei porque vocês estavam prestando muita atenção no que eu estava dizendo.
3. A melhor história que ouvi até hoje, elejo uma a mim contada por João Batista Machado, o nosso Machadinho. Acontece que Padre Sales, venerando sacerdote mossoroense, ao completar 80 anos, recebeu homenagens merecidas, culminando com um banquete. Ao agradecer todos os elogios de seus ex-alunos e amigos, foi de uma sábia franqueza: "Meus conterrâneos, ao agradecer tantas louvações, quero dizer-lhes o seguinte: Depois de ser vigário nestas paróquias todas do Oeste, andando a cavalo e jumento, subindo e descendo serras, usando essa batina preta e grossa, com 40 graus de calor, quero concluir, dizendo: - Se esse tal de céu não existir, ô tabocada que eu levei... Isso sem esquecer os votos que fiz e cumpri fielmente: o da castidade, pobreza e obediência".
É demais para um pobre vivente - mesmo sendo Servo de Deus. Hoje, obviamente, mais difícil ainda.
Quem vive sem loucura não é tão sensato quanto imagina. (La ROCHEFOUCAULD. Reflexões e máximas morais [1664-78]. São Paulo: Cultrix, 1962, p.66)
BALAIO INCOMUN n° 1937
Desde 1986
21 de janeiro de 2007
Tesourapress
HUMANO, DEMASIADO FRÁGIL
Sanderson Negreiros (RN)
[ in Tribuna do Norte, em Quadrantes ]
1. Conta-se que Padre Mota, experimentado conhecedor da natureza humana e que, durante a existência inteira, marcou a vida de Mossoró, certa vez recebeu no confessionário uma dama que, penitente, foi logo dizendo:
- Padre Mota, meu grande pecado é o orgulho.
O vigário, bonachão e curioso daquele testemunho tão veraz e eloqüente, foi perguntando:
- Minha filha, você é rica?
- Não, senhor.
- Você é bonita, elegante, charmosa?
- Não, senhor.
- Você é inteligente, tem cultura?
- Não, senhor.
- Me diga uma coisa: você é de uma família muito importante?
- Não, senhor.
E Padre Mota, do alto de seus sapatos de fivela - sapato de monsenhor protonotário apostólico - perdeu certa paciência magnânima e foi, como sempre, sincero e objetivo:
- Então, minha filha, você não é orgulhosa. Você é muito é da besta.
E anotemos na nossa agenda: quantas vezes na vida pensamos que agimos por orgulho, quando, na realidade, o que somos mesmo é donos da besteira universal, unânime e concreta. A besteira da arrogância.
2. Leio nas memórias de Vitorino Freire uma passagem deliciosa com Benedito Valadares, mestre da matreirice política de Minas Gerais. Certa vez, Vitorino, senador pelo Maranhão, mais o senador Gilberto Marinho, conversavam com Benedito, autor inclusive da famosa frase: "Estou rouco de tanto ouvir". O velho pessedista mineiro, que Getúlio retirou do anonimato de Patos de Minas, onde era humilde dentista, e o fez interventor por quase quinze anos. Consabidamente não falava, mas era de uma sabedoria política inquestionável. Dele também é a sábia advertência: "Só realize reunião quando tiver decidido tudo antes. Reunião é feita para aprovar". Certo dia, Benedito estava conversador mais do que a medida permitida pela prudência mineira. Vitorino e Gilberto Marinho ficaram em silêncio, vendo e ouvindo a desenvoltura do velho Valadares. Mas, mal discorria, Benedito pára e cala. Vitorino interroga:
- Benedito, por que você parou de falar?
E a matreirice responde:
- Parei porque vocês estavam prestando muita atenção no que eu estava dizendo.
3. A melhor história que ouvi até hoje, elejo uma a mim contada por João Batista Machado, o nosso Machadinho. Acontece que Padre Sales, venerando sacerdote mossoroense, ao completar 80 anos, recebeu homenagens merecidas, culminando com um banquete. Ao agradecer todos os elogios de seus ex-alunos e amigos, foi de uma sábia franqueza: "Meus conterrâneos, ao agradecer tantas louvações, quero dizer-lhes o seguinte: Depois de ser vigário nestas paróquias todas do Oeste, andando a cavalo e jumento, subindo e descendo serras, usando essa batina preta e grossa, com 40 graus de calor, quero concluir, dizendo: - Se esse tal de céu não existir, ô tabocada que eu levei... Isso sem esquecer os votos que fiz e cumpri fielmente: o da castidade, pobreza e obediência".
É demais para um pobre vivente - mesmo sendo Servo de Deus. Hoje, obviamente, mais difícil ainda.
7 comentários:
ô tabocada porreta de Balaio que eu levei...
ah, esqueci! Moacy o meu email é: douglasthomazdeoliveira@yahoo.com.br
aguardo material sobre o P/P.
abraços.
Moacy: essa roqueira eu conheço, quero dizer: quase - seu post me inspirou, provocou o renascimento de uma história sobre a Mona Lisa que vou contar lá no blog. Não tão boa como as histórias contadas aqui, claro. Abraços.
Muito bons os causos, caro Moacy, inclusive o do nosso prieiro diabo atrasador, Vitorino Freire! Belíssima imagem (Imagem:
Orsolya Belog). Abração!
Gostei da roqueira e da frase, só não li o restante... não, não é arrogância, é o tempo que ruge, ops, urge... ;-)
Beijos.
Deliciosos os textos de Sanderson. E belíssima a foto. Um abraço.
Taí, gostei de padre Sales ;)
E a foto, bom, dei uma roubadinha básica, tudo bem?
Beijo beijo.
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