quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O sertão seridoense
Foto de
Davi de Sá


BALAIO PORRETA 1986
n° 2812
Natal, 15 de outubro de 2009

Ardo. Não finjo. Choro. Não disfarço. Brinco com o meu cansaço como quem se entrega às férias do final de ano.
Mas nem é verão ainda.

É outuno. E as árvores choram as folhas que fogem para o chão.
(Sheyla AZEVEDO, in Duas estações. Bicho Esquisito)



RECOMEÇO
Moacy Cirne
[ in Qualquer tudo, 1993 ]

Sei do sonho:
procuro tua sombra na
penumbra
da memória líquida
e nada encontro.
A lua não é vermelha
não é violeta
não é verdecoisa
mas
os loucos da madrugada
anunciam as primeiras águas da manhã.
Sei do sonho?
Tua sombra pagã
é um corpo que me foge
das mãos cansadas de espantos
e abismos.
A árvore sonolenta
anoitece os meus delírios.
Não te vejo na claridade
do silêncio.
O sol é um pássaro ferido
na solidão
de meus gestos de meus gritos
e a hora cruviana
é uma graviola
grávida
de aromas e carnes
pronta para ser saboreada.
Sei.
Não foi um sonho.
Como encontrar,
então,
na arquitetura fluvial
de meus quereres
as linhas
e as curvas
de teu corpo barrento-canela?
Ah, não! Ah, sim!
Existe
um
grande sertão
nas veredas da minha paixão.
E eu sei do sonho.
Procuro tua sombra líquida
e nada encontro.
A lua não é verdeluã
mas
tua sombra pagã
anoitece os meus delírios.
Como encontrar,
sol e solidão,
a arquitetura colonial
de teu corpo fluvial?
Como encontrar,
no silêncio de meus gritos,
tua sombra teus aromas tuas carnes?
Sim,
não.
Tua memória vermelha
é uma sombra grávida
de morenezas e reentrâncias
azuis.
Docemente azuis.
Barrentas e azuis.


CENAS BRASILEIRAS

Marcos Silva Bené Chaves Adriano de Sousa Alex de Souza Anchieta Fernandes Carlos de Souza Francisco Sobreira Gilberto Stabili João da Mata Costa Lívio Oliveira Marcius Cortez Marcos Aurélio Felipe Moacy Cirne Nelson Marques Pablo Capistrano e outros autores Cenas brasileiras - o cinema em perspectiva multidisciplinar Lançamento dia 20 16 horas Natal Auditório do Curso de Enfermagem Campus UFRN Limite Aviso aos navegantes Carnaval Atlântida Aruanda Porto das Caixas Macunaíma São Bernardo Assuntina das Amérikas Mar de rosas Tudo bem O país de São Saruê e outros filmes.

18 comentários:

Romário Gomes disse...

Este poema é um sonho... belíssimo! Um abraço, Moacy.

BAR DO BARDO disse...

Bom lirismo...

líria porto disse...

fiquei comovida com a fotografia do sertáo e mais ainda com o teu poema, como se já tivesse ouvido antes as tuas palavras...
besos

Hercília Fernandes disse...

Certamente o poeta sabe do sonho. Belíssimo o seu poema, Moacy. As imagens fizeram-me sonhar.

Linda postagem, tudo amei!

Beijos, poetíssimo!
H.F.

Mme. S. disse...

O teu poema é só encanto.
E, mais uma vez, e sempre, agradecida pela tua generosidade em trechos e em amplidões.
Beijos, da tua menina, S.

Unknown disse...

A foto é de torar, um primor, e o Qualquer tudo é uma pintura.

Marco disse...

Caro mestre Moacy,
Arrasando no poema! UAU! E o bom gosto de sempre para escolher a foto que ilustras seus ótimos posts.
Vou querer esse livro de qualquer jeito! Três amigos blogueiros muito queridos escrevem nele (você, Sobreira e Bené) e não abro mão de lê-los. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

vais disse...

Saudações Moacy,
Noooossa, que lugar é este, que imagem é esta, Parabéns ao Davi.
Muito bonito e triste o poema da Sheyla
Seu Recomeço, lerei de novo...
Também tenho interesse no livro, eheh, e tudo de bom no lançamento
beijo

nydia bonetti disse...

"Existe
um
grande sertão
nas veredas da minha paixão".

Coisa mais bonita, Moacy. Gostei muito. Beijo.

Marco disse...

Caro mestre Moacy,
voltei para recomendar um blog de um cinéfilo que escreve posts interessantes sobre artistas de cinema. O atual é sobre Lucille Bremer, bem interessante. O endereço é http://tertulhas.blogspot.com
Carpe Diem.

Francisco Sobreira disse...

Que poema porreta, caro amigo! Dos que conheço, é o melhor, na minha limitada opinião sobre poesia. Pois é, na próxima terça nos encontraremos no Campus. Um abraço.

nina rizzi disse...

bonito isso "qualquer tudo é uma pintura".

nossa, a foto é mesmo de lascar. eu sempre quis conhecer tudo, sabe, tudo o sertão com seus barros e fendas e aquele céu que treme. aí eu vejo uma fotografia dessas, eu sinto um poema desses e ai, pronto: eu me aconteço toda.

a gente vai encontrar a verde-mulatez.

um beijo nessa aridez, moacy.

Grupo Teatro Carmin disse...

Querido Moacir, fostes embora e nem te vi!! Por isso venho aqui no teu balaio admirar teus pensamentos e te saudar!!
Amei o poema de Sheylinha.

Carlinhos Medeiros disse...

Poema não se discute, é uma heresia, mas a foto compõe o ambiente poético de tal forma, que se transforma na própria poesia. Abs!

Jens disse...

"Existe um grande sertão nas veredas da minha paixão". Bonito, poeta.

Um abraço.

(PS: baita foto! Parabéns ao Davi)

Dilberto L. Rosa disse...

Vi teu Seridó na TV, como diria o Chico... E a beleza de tua terra dá nisso: a hora cruviana/ é uma graviola/ grávida/ de aromas e carnes/ pronta para ser saboreada. Adorei isso: pura sinestesia de mestre seridoense! Abração!

Lívio Oliveira disse...

Seridó...
Seridó...

Filipe disse...

Teu poema é de perder o fôlego, mestre!