sábado, 9 de janeiro de 2010

UM FILME É UM FILME É UM FILME
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para verouvir os 9 minutos finais de
Os visitantes da noite
(Marcel Carné, 1942)
Uma fábula romântica ambientada no século XV: nem mesmo o diabo é capaz de destruir o amor. Mesmo que transforme os dois amantes em estátuas pedregosas. O clima onírico do filme é obtido através de uma parceria perfeita: Carné/Prévert. O primeiro, um cineasta com alma de poeta; o segundo, um poeta com alma de cineasta. Não nos esqueçamos que 1942 é o ano de outra fábula marcante, só que ambientada no século XX, em plena segunda guerra mundial: Casablanca (Michael Curtiz), assim como será o ano de uma das obras-primas de Orson Welles (Soberba) e de um Luchino Visconti inaugural (Obsessão). É também o ano de um dos marcos da literatura do século: O estrangeiro, de Camus.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2895
Rio, 9 de janeiro de 2010


Para que tudo ficasse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me desejar que houvesse muitos espectadores no dia da minha execução e que eles me acolhessem com gritos de ódio.
(Albert CAMUS. O estrangeiro [trad. Rui Guedes da Silva], 1942).


PRIMEIROS FILMES (RE)VISTOS EM 2010

Nos cinemas:

Diário de Sintra ** (Paula Gaitán, 2007)
Abraços partidos * (Almodóvar, 2009)

Em casa:

A tomada do poder por Luís XIV *** (Rossellini, 1966)
Muito cedo, muito tarde *** (Straub & Huillet, 1982)
Legião invencível ** (Ford, 1949)

Revisões, em casa:

As férias do Sr. Hulot *** (Tati, 1953)
Gigi ** (Minnelli, 1958)
Parade ** (Tati, 1977)

Nossas cotações:

*** Excelente
** Ótimo
* Especialmente bom


ATUALIZAÇÃO DO QUADRO DE DIRETORES
considerando, respectivamente, o número de
filmes excelentes, ótimos e especialmente bons
segundo a minha avaliação crítico-delirante-seridoense

[10] [03] [02] ANTONIONI
[O9] [08] [11] GODARD
[09] [04] [01] WELLES
[08] [03] [05] RENOIR
[08] [03] [01] ROSSELLINI
[07] [03] [02] FORD
[07] [03] [01] BRESSON


[06] [04] [01] ROHMER
[06] [03] [03] VISCONTI
[06] [03] [01] KUBRICK
[06] [03] [01] STRAUB & HUILLET
[06] [02] [04] BERGMAN

[05] [06] [02] BUÑUEL
[05] [02] [01] CASSAVETES
[05] [02] [01] KEATON
[05] [01] [01] MIZOGUCHI

DIÁRIO DE SINTRA
Moacy Cirne

Revelar poeticamente a real intimidade do outro sem culpá-lo ou mascará-lo não é nem um pouco fácil. Torna-se necessária uma exposição delicada de mão dupla, pois trabalha-se o improviso o tempo todo. Entrecruzam-se esforços, palavras, pensamentos e espaços detalhados aqui e ali. E é bem mais que uma experiência ou um exercício de vontades subjetivas. O ápice talvez seja o mesmo olhar poético à procura do espaço do outro em si mesmo.
(Luiz Rosemberg Filho & Sindoval Aguiar, in Via Política)


Aparentemente desconexo, desconstruído, com uma narrativa que privilegia a surpresa e o afeto, Diário de Sintra (Paula Gaitán, 2007) é mais do que um filme experimental: é um sonho. Um sonho que se realiza cinematograficamente através da poesia, do ritmo visual, das imagens e da lembrança (carinhosa) dos últimos dias de vida de Glauber Rocha em Portugal. E como todo e qualquer sonho, não existe como uma linearidade explícita: existe como exercício da memória, da neblinura, da imagem em estado poético.

E se suas imagens, propositadamente (a partir do super-8), muitas vezes são borradas, são difusas, são embaçadas ou mesmo abstratas, em sendo concretas, o são tendo tendo em vista a própria narrativa construída/desconstruída poeticamente, que se abre para a possibilidade do labirinto-sonho, sem cair nas facilidades do choro lamentoso diante da morte. Num certo sentido, são imagens dilaceradas: pela dor, sim, mas também pela criação e pelo fim de uma existência que se fez revolucionária em seu tempo.

Diário de Sintra é um filme que aposta na provocação estética. Os seus efeitos - como cinema - não são os efeitos digitais, não são os especiais, não são os piroténicos ou espetaculosos, apropriados para o cinema-pipoca dos xópins. Antes, são os efeitos da sensibilidade, da paixão, da surpresa, da possibilidade criadora. E como tal, devem ser vistos e sentidos. E como tal, devem ser pensados e repensados. E como tal, devem ser retrabalhados como parte de uma estética crítica e amorosa: a estética viva de Paula Gaitán.

[ Clique aqui ou no título do filme para ver o seu trêiler. ]

11 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Aprendendo...

putas resolutas disse...

diário de sintra - não posso perder!

morrer em sintra...

besos

Pedrita disse...

ah, não vi os visitantes da noite. beijos, pedrita

Francisco Sobreira disse...

Meu caro,
Os Visitantes da Noite é de fato um grande filme, com um grande final, com os corações das estátuas batendo - o amor vencendo a morte. Carné foi um grande diretor, sobretudo nas de´cadas de 1930 e 40. Um abraço.

* Adquiri Abraços Partidos, mas ainda não o vi. Devo vê-lo hoje.

Mme. S. disse...

Bom post! Boa semana!
Beijos, Sheyla.

Bené Chaves disse...

Moacy: lembrar que o filme de Carné foi exibido no então Cine Clube Tirol no dia 4 de agosto de 1962.
Bons tempos aqueles, hein?

Um abraço...

Unknown disse...

Já está na minha lista, difícil será encontrar o dito cujo. Abraço.

nina rizzi disse...

Nossa, eu sou a melhor filha da d. sta. gororância. mas nesse caso ao menos justificável: um amigo que se atrasa à hora da exibição; um filme que nao se ecnontra nem com reza braba...

mas eu me solidifico dentro da estátua, sim sim... euelemorel.eueletudos.

o estrangeiro é dos meus livros preferidos. não é o chão, somos nós.

ei, de moto, à caminho de Itapipoca (que sonoridade!), que coisa mais lindas a serra, os bichos, tudo tão ser tão e sal...

hm, e sobre aquela história de ontem... já la liseuse de degas, renoir, braque, do próprio picasso e mais um monte, mas "piseuse", que raio de obra é essa que nunca vi? que raio de palavra é essa que não conheço? moi, la liseuse!? rsrsrs...

um beijo acampado de ser tão.

joão da mata disse...

menina rizzi,sta gonorancia.esqueça o sarkozy e mete a língua no lusófono do aurélio.a tradução da obra di pica de asso é a mijona.um bj na xoxoteuse.

Unknown disse...

É impressionante seu conhecimento como cinéfolo!

Parabéns!

Beijos

Mirse

líria porto disse...

fui assistir abraços partidos e não gostei - seria eu ou o almodóvar? das vez num estava num dia bão...

besos