quinta-feira, 30 de abril de 2009


1. O Itans, hoje pela manhã,
em foto clicada de sua parede
por Suerda Medeiros

2. O Itans durante o inverno

do ano passado,
em foto de Thaís Moreira


BALAIO PORRETA 1986
n° 2646
Rio, 30 de abril de 2009

Itans são águas que beijam e embalam o sertão, Itans são as primeiras águas que vi na vida. Itans é uma referência de emoção, Itans é uma ternura líquida e certa.
(Nei Leandro de CASTRO. Saudação a Caicó, 12/12/08)


CANTORIA DOS TRABALHADORES,
EM RITMO DE COCO,
DURANTE A CONSTRUÇÃO DO ITANS (1932-36)
[ Fonte: Oswaldo Lamartine de Faria, 1978 ]

- Oi tamanqueiro
eu quer'um pá,
quer'um pá.
Eu quer'um pá
de tamanco pra dançá...

- Tamanqueiro eu num digo tu quem sois
(Quer'um pá)
- Qui é para num fazê vergonha ao povo.
(Quer'um pá)
- Teu suó só me fede a urubu novo.
(Quer'um pá)
- Tua barba raspada dá veneno
(Quer'um pá)
- E me parece qui'aqui dentro do salão
(Quer'um pá)
- Uma ticaca assanhada fede menos...

- Oi, tamanqueiro
eu quer'um pá
quer'um pá.
Eu quer'um pá
de tamanco pra dançá....


ITANS
Moacy Cirne
[ in Cinema Pax, 1983 ]

o
açude,
menina,
reflete sua morna horizontalidade
em águas sem fim
alimentadas nos invernos
inesperados dos templos estrelãs
na
direção
de
natal
posto avançado do sertão
ante-sala da cidade,
açude com suas piranhas e seus pirárus
nas águas sementeiras
de janeiro a dezembro

águas que lembram
o vento xique-xique da saudade


DICIONÁRIO CRÍTICO
NELSON WERNECK SODRÉ

Será hoje, a partir de 18:30h, na Livraria Argumento (Leblon, Rio), o lançamento do livro organizado pelo historiador Marcos Silva Dicionário crítico Nelson Werneck Sodré. A noite promete: livros, poesia e música brasileira. E o Dicionário é uma bela homenagem ao marxista NWS. Entre os textos, abordando suas obras: Capitalismo e revolução burguesa no Brasil (João Quartim de Moraes), Do Estado Novo à ditadura militar (Flávio Luís Rodrigues), Evolução social do Brasil (João Carlos de Souza), Farsa do neoliberalismo (Raul Milliet Filho), Fundamentos do materialismo dialético (João da Mata Costa), O governo militar secreto (Homero de Oliveira Costa), História da literatura brasileira (José Paulo Netto), Memórias de um soldado (Marcos Silva), Síntese do desenvolvimento literário do Brasil (Moacy Cirne), Tudo é política (Ivan Alves Filho).

quarta-feira, 29 de abril de 2009

EXTRA! EXTRA!
O ITANS
COMEÇOU A SANGRAR!

BALAIO PORRETA ESPECIAL
n° 2645
Rio, 29 de abril de 2009

Inaugurado em 1936,
a primeira sangria do Itans deu-se em 1940.

O Itans e a Serra de São Bernardo (Samanaú)
Foto: Marcos Dantas


O QUE É UMA SANGRIA DE AÇUDE?

Para aqueles (no Sul Maravilha) que não sabem:
sangria é o transbordamento das águas de um açude/barragem.
Há duas espécies de sangrias:
as tradicionais, através dos sangradouros
nas laterais de sua parede (de barro, pedra e outros materiais),
formando verdadeiros rios e riachos
[no Seridó, é o caso do Itans, em Caicó]
e as modernas, mais plásticas,
quando as águas transbordam
sobre as paredes de concreto
[entre nós, é o caso do Gargalheiras, em Acari,
e de vários outros açudes].
Eventualmente, as sangrias são mistas.

E atenção:
continua chovendo bastante nas cabeceiras do rio Barra Nova
e o Itans está pegando muita água,
segundo informações de última hora.
A sangria do Itans começou exatamente às 15:41h.

BALAIO PORRETA EXTRA
n° 2644
Rio, 29 de abril de 2009

Atenção! Atenção!
O Itans, em Caicó,
poderá sangrar a qualquer momento.
Só faltam 14cm
para os sangradouros explodirem de alegria.

Foto: Ilma Gomes


Sangria do Açude Santo Antônio,
em São João do Sabugi:

o Seridó e todo o interior do nosso Rio Grande em festa -
com o inverno ainda em curso, são várias as
barragens que sangram.
E uma pergunta se faz o caicoense:
quando sangrará o Itans?

Fotos: Glauber Azevedo
in
Sabugilândia


BALAIO PORRETA 1986
n° 2643
Rio, 29 de abril de 2009

Há dias em que anoitecemos antes da hora do almoço.
Segunda-feira é um dia bem propício para isso.
(Sheyla AZEVEDO. Crepúsculo, in Bicho Esquisito)


POEMA
Romério Rômulo
[ in Matéria bruta, 2006 ]

a noite é um mistério solto.
a vaga solidão me é manhã.
quando cabido, sou homem, sou bêbada
ave que deserta madrugada.

estes saberes breves são ausências
que a solidão revela no meu rosto.

DEFLORAÇÃO
Líria Porto
[ in Tanto Mar ]

a terra molhada
exala um perfume
tão próprio das fêmeas
um cheiro de coito
e dentro em pouco
estará inundada
de verdes de brotos
de intumescências


NATAL DE LUTO

O histórico cinema Rio Grande, de Natal, inaugurado em 1949 (e que, fechado há alguns anos, poderia ser transformado em centro cultural), vai se "renovar" como mais uma igreja evangélica. De templo sagrado pelos deuses da arte cinematográfica - e nele reinavam, quase absolutos, Hawks e Hitchcock, e as chanchadas de Oscarito & Grande Otelo - para um templo consagrado pelo reino das sombras de origem duvidosa: eis a triste realidade de uma aldeia chamada Natal. Que já foi a Cidade dos Reys.


Extra:
Atualização às 11:12h

ESTRANHO, MUITO ESTRANHO...

O Mercado Público de Caicó - uma construção de 1918 -, em obras (fajutas, é verdade), simplesmente desabou de ontem para hoje. Há que perguntar: desabou ou "foi desabado"? Caiu ou "foi caído"? Eis a triste realidade de uma aldeia chamada Caicó. Que já foi a essência do seridoísmo.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Auto-retrato
(1844-45)
Gustave Courbet


BALAIO PORRETA 1986
n° 2642
Rio, 28 de abril de 2009

Mas a Bíblia é uma longa miscelânea em livro, e muitos dos que tentaram lê-lo de fio a pavio caíram ali pela altura do Levítico. Há um motivo para isso: a Bíblia parece mais uma pequena biblioteca do que um livro de fato ...
(Northrop FRYE. O código dos códigos: a Bíblia e a literatura, 1982)


O LIVRO DOS LIVROS
(23)

Texto estabelecido por
Moatidatotatýne, o Escriba

O encontro do Senhor das Alturas com Anselmo de Cantuária

E aconteceu mais uma vez. E mais uma vez aconteceu: o Senhor das Alturas, em nova crise existencial, criou outras galáxias, outras estrelas, outros planetas, outros cometas, além daqueles já criados pela Explosão Inaugural. E o Senhor das Alturas pensou. E pensou. E pensou. E disse para seus botões de purpurina dourada: "Preciso encontrar o teólogo Anselmo de Cantuária, que viverá entre 1033 e 1109 da Era Comum. Talvez ele, mais do que outros sábios, possa me responder de fato se existo ou não para o Outro, se as minhas criações não passam de ficção científica ou de literatura fantástica, se, enfim, existo como uma inegável concretude ontológica, seja lá o que isso possa significar para os simples mortais". E pensou mais: "De que adiantará existir se me ignorarem solenemente? Preciso existir, nem que seja através de textos apócrifos".

E o Senhor das Alturas apresentou-se diante de Anselmo de Cantuária, que surpreso ficará com aquela luminosidade inesperada em plena noite de abril. E o Senhor das Alturas indagou, com sua voz trovejante: "Acreditas na minha existência, oh santa criatura? Sou o que sou?" E Anselmo de Cantuária responderá, passado o susto inicial: "Pode-se pensar na existência de um ser que não admite ser pensado como não existente. Ora, aquilo que não pode ser pensado como não existente, sem dúvida, é maior que aquilo que pode ser como não existente".

E o Senhor das Alturas disse: "Não sei se entendi bem; possivelmente, não. Voltei a Me perturbar com uma questão aparentemente superada. Ou, então, amanheci burro, embora, no meu espaçotempo, no meu presentepassado, não existam amanheceres e anoiteceres. Afinal, existo ou não existo?" E Anselmo de Cantuária dirá: "Tu existes, oh Senhor, meu Deus, e de tal forma existes que nem é possível pensar-Te não existente. E com razão. Se a mente humana conseguisse conceber algo maior que Tu, a criatura elevar-se-ia acima do Criador e formularia um juízo acerca do Criador. Coisa extremamente absurda".

E o Senhor das Alturas, tomando uma boa lapada de cana, disse: "Como assim? Mas a tua certeza me comove. Serei onipotente, por acaso?" E Anselmo de Cantuária continuará: "Como poderás ser onipotente se Tu não podes tudo? Como poderás ser onipotente desde que não é possível a Ti nem morrer, nem mentir, nem fazer com o que o verdadeiro se transforme em falso?" E o Senhor das Alturas, depois de mais uma talagada de cachaça, disse: "Mas outros morrerão por Mim, mas outros - falsos profetas - mentirão em Meu nome, mas outros escreverão livros apócrifos sobre o big-bang e o Seridó que serão tidos como verdadeiros".

E o Senhor das Alturas disse mais: "De qualquer modo, tuas palavras são sábias, sobretudo depois de 222 chamadas de Samanaú, Topázio, Rainha e Malhada Vermelha(ª¹). Sinto que as minhas dúvidas começam a se dissipar: sinto também que Eu sou o Conhecimento, o Saber, a Força". E Anselmo de Cantuária completará: "Oh Senhor das Alturas, rogo-te que permitas que Te conheça, Te ame, e possa assim fruir da Tua felicidade. E se não posso tê-la plenamente durante esta vida, ao menos consiga avançar, cada dia mais, em direção a ela, de modo a alcançá-la plenamente".

E o Senhor das Alturas, feliz da vida, começou a bailar e a cantar: "Quem não gosta de samba, bom sujeito não é; ou é ruim da cabeça ou é doente do pé..."(ª²).

Próximo capítulo:
O Livro dos Provérbios

Notas dos Editores:

(ª¹) Samanaú e Malhada Vermelha, cachaças potiguares; Topázio, cachaça mineira; Rainha, cachaça paraibana. Os teólogos e ufólogos da Cidade dos Reys justificam esta passagem bíblica como a "metáfora da alegria seridoense-marciana".
(ª²) De igual modo, apesar de sua estranheza epistemológica, esta passagem é considerada por Romário Gumes e Eliane Dantas, pesquisadores de São José do Poço da Moça Bonita, como a "metáfora da alegria carnavalesca".

domingo, 26 de abril de 2009

Zila Mamede
(1929-1985):
a paraibana que se tornou
a expressão maior da poesia do
Rio Grande do Norte

Foto redimensionada pelo
Balaio


BALAIO PORRETA 1986
n° 2641
Rio, 27 de abril de 2009

Zila Mamede reencontra na Terra o encanto informe e concordante com a sua própria vida interior. Os poemas são frutos da terra e das almas, as almas poéticas que vivem em Zila Mamede, alma lírica, alma irônica, alma sonhadora, alma que espera, alma que confia.
(Notas de Luís da Câmara CASCUDO, in O arado, 1959)


10+2 GRANDES POETAS POTIGUARES
segundo
43 leitores e/ou amigos do
Balaio,
a partir de uma idéia lançada pelo
Substantivo Plural

1. ZILA MAMEDE (34 citações)
2. JORGE FERNANDES (30)
3. LUÍS CARLOS GUIMARÃES (26)
4. NEI LEANDRO DE CASTRO (23)
5. MARIZE CASTRO (20)
6. IRACEMA MACEDO (19)
7. JOSÉ BEZERRA GOMES (18)
8. MIGUEL CIRILO (14)
9. DIVA CUNHA (13)
10. FERREIRA ITAJUBÁ
e SANDERSON NEGREIROS (12)
12. ADRIANO DE SOUSA (11 citações)

UM POEMA DE
ZILA MAMEDE
[ in Corpo a corpo, 1978 ]

Onde

Entre a ânsia
e a distância
onde me ocultar?

Entre o medo
e o multiapego
onde me atirar?

Entre a querência
e a clarausência
onde me morrer?

Entre a razão
e tal paixão
onde me cumprir?

Algumas breves considerações

1. Será que poderíamos considerar esses nomes os mais adequados para o estabelecimento formal de um possível Cânone da Poesia Potiguar? Sim e não, provavelmente. Sim, porque todos eles são bastante representativos: há clássicos consagrados (Zila Mamede, Jorge Fernandes, José Bezerra Gomes, Ferreira Itajubá, além de Luís Carlos Guimarães e Miguel Cirilo, todos falecidos) e há nomes que já são referência obrigatória para a formação de nossa poeticidade (Nei Leandro de Castro e Sanderson Negreiros, praticamente dois clássicos em vida, e Marize Castro, Iracema Macedo, Diva Cunha, Adriano de Sousa). E não, porque a nossa enquete, mesmo sendo abrangente, não pode ouvir muita gente capacitada para opinar a respeito de suas preferências (ora pessoais, ora exclusivamente literárias). De qualquer modo, acreditamos que o resultado final não seria muito diferente daquele ora apresentado, com duas ou três possíveis exceções.

2. Alguns poderão estranhar - ou lamentar - a ausência de poetas que sempre apareceram em nossas melhores antologias: Auta de Sousa, Henrique Castriciano, Othoniel Menezes, Gothardo Neto, Juvenal Antunes, Newton Navarro, Gilberto Avelino ou mesmo o carioca-potiguar Homero Homem - nomes expressivos, sem dúvida, mas que, sobretudo no caso dos mais antigos, não mobilizam mais, ou mobilizam muito pouco, os leitores atentos dos nossos dias. De certo modo, ainda em relação àqueles que marcaram época nas primeiras décadas do século passado, são poetas que fazem parte da "arqueologia literária" do Estado. E o afirmamos sem qualquer peso pejorativo, apenas como adendo para a história da literatura do Rio Grande do Norte.

3. Destaquemos: além dos 12 nomes mais citados, receberam votos - de forma expressiva ou razoável, pode-se dizer - os poetas Paulo de Tarso Correia de Melo (9 citações), Moacy Cirne (9), Antonio Francisco (8), Jarbas Martins (8), João Lins Caldas (7), Carmen Vasconcelos (6), Myriam Coeli da Silveira (6), Walflan de Queiroz (6 citações). Ao todo, foram citados 86 poetas. Um bom número, sem dúvida. Mas a verdade é que não há lista perfeita, nem cânone que dure para sempre (a não ser em casos excepcionais, considerando-se alguns autores ou algumas obras).

4. Para muitos dos consultados, com mais ou menos intensidade, fazíamos questão de salientar que a enquete tinha por objetivo destacar única e exclusivamente os poetas que trabalham a verbalidade. Mesmo assim poetas visuais como Anchieta Fernandes, Avelino de Araújo e Jota Medeiros foram contemplados com algumas (poucas) indicações. Sabemos que a questão da poesia visual é um tabu para muita gente. E como poeta/processo não temos o menor problema com a poesia verbal; preferimos privilegiar, na enquete, o que já estava subentendido na proposta inicial do Substantivo Plural: a nossa verbalidade, que encontra em Zila Mamede (a paraibana que, em criança, veio residir entre nós) o seu parâmetro estético-literário mais sólido. Ao lado do modernista Jorge Fernandes e dos demais.

Pirangi do Sul, nas proximidades de Natal

Foto: autoria não-identificada


BALAIO PORRETA 1986
n° 2640
Rio, 26 de abril de 2009

Daqui partiram rudes marinheiros
para as grandes viagens e aventuras,
com suas mãos de mar, calosas, duras,
rasgando novos rumos e roteiros.
(Deífilo GURGEL, in A praia. Os dias e as noites, 1979)


10 POETAS POTIGUARES
Tácito Costa
[ in Substantivo Plural ]

Adriano de Sousa
Jorge Fernandes
Iracema Macedo
Luís Carlos Guimarães
Marize Castro
Moacy Cirne
Nei Leandro de Castro
Othoniel Menezes
Paulo de Tarso Correia de Melo
Zila Mamede

10 POETAS POTIGUARES
João Quintino

1. Diva Cunha
2. Iracema Macedo
3. João Andrade
4. Luís Carlos Guimarães
5. Marcílio Medeiros
6. Marize Castro
7. Moacy Cirne
8. Nei Leaandro de Castro
9. Sanderson Negreiros
10. Zila Mamede

10 POETAS POTIGUARES
Moacy Cirne

1. José Bezerra Gomes
2. Jorge Fernandes
3. Zila Mamede
4. Nei Leandro de Castro
5. Luís Carlos Guimarães
6. Marize Castro
7. Sanderson Negreiros
8. Miguel Cirilo
9. Ferreira Itajubá
10. Moysés Sesyom


PARA VOCÊ
Walflan de Queiroz
[ in O livro de Tânia, 1963 ]

Eu venho de uma montanha, Tânia.
De uma montanha de fogo e de sombras,
De fogo como o sol e de sombras como a noite.

Venho de um vale, Tânia.
Um vale com mil flores brilhantes.
E todas estas flores eram tuas.

Venho de uma floresta, Tânia.
Uma floresta com apenas um pássaro.
Um pássaro azul como as águas do rio.

Venho de um lago também azul, Tânia.
Um lago tranquilo e sem rumores,
Com cisnes brancos, cisnes selvagens,
Selvagens como meu amor.

Eu venho do mar, Tânia.
Um mar sem praias e sem gaivotas,
Com uma ilha de carne,
E com o sangue de uma estrela.

Venho do deserto quente, Tânia.
Um deserto com ventos de areia,
E com monumentos que são sepulcros,
Onde enterro a minha solidão.

sábado, 25 de abril de 2009

FILMES QUE MARCARAM ÉPOCA
NA CAICÓ DOS ANOS 50
Clique na imagem
para verouvir
duas sequências de
Paraíso proibido
(Dieterle, 1950)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2639
Rio, 25 de abril de 2009

Exibido em Caicó por volta de 1954, Paraíso proibido - romântico entre os românticos - era o filme preferido do cinéfilo Aldo Medeiros, ex-prefeito da cidade seridoense nos anos 30 e, antes do Seu Clóvis, proprietário do próprio Cinema Pax. Paraíso proibido - a história de um amor avassalador construída, em plena Itália, a partir de uma tragédia - também se notabilizou por seu tema musical: 'A canção de setembro', que seria gravada por Frank Sinatra nos anos 60. [Da filmoteca particular do Sr. Aldo Medeiros, em 16mm, constavam, entre outros títulos, os clássicos A General (Keaton & Bruckman, 1927), Napoelão (Gance, 1927), Os bandeirantes (Cruze, 1923), Órfãs da tempestade (Griffith, 1922) e o primeiro Tarzan da história do cinema, de 1918.]


10 POETAS POTIGUARES
Candinha Bezerra

Newton Navarro
Zila Mamede
Jorge Fernandes
Moacy Cirne
Iracema Macedo
Dácio Galvão
Xexéu
Marize Castro
Diva Cunha
Onésimo Maia

10 POETAS POTIGUARES
Inês Mota

Diva Cunha
Ferreira Itajubá
Nei Leandro de Castro
Homero Homem
Dailor Varela
Nivaldete Ferreira
Thiago Leite
Theo G. Alves
Adriano de Sousa
Moacy Cirne


TESTAMENTO
Luís Carlos Guimarães
[ in O fruto maduro, 1996 ]

Tenho duas pontes de safena
por onde passo e fico em cena.
Agora vou sob juramento
declarar meu testamento.
Excluo a solidão como bem
que se transmita a alguém.
Nem arrolo a contragosto
o que na vida foi desgosto.
Meu quinhão de esperança
não transmito como herança.
O que resta do sonho
em nenhuma partilha ponho.
Da dor não faço legado
para ser de mim apartado.
E o amor? Recuso amor
a quem não estima seu valor.
São os bens que vão comigo
quando a morte me der abrigo.
O corpo entregarei à terra
de onde vim e que me enterra
em túmulo à sombra de uma árvore,
sem inscrição e lousa de mármore.


10 POETAS POTIGUARES
Gildete Moura

Zila Mamede
Jarbas Martins
Othoniel Menezes
Jorge Fernandes
Auta de Sousa
Newton Navarro
Jota Medeiros
Berilo Wanderley
Luís Carlos Guimarães
Antônio Pinto de Medeiros

10 POETAS POTIGUARES
David de Medeiros Leite
[ in Substantivo Plural ]

Paulo de Tarso Correia de Melo
João Lins Caldas
Diva Cunha
Carmen Vasconcelos
Aécio Cândido
Crispiniano Neto
Antônio Francisco
Martins de Vasconcelos
Clauder Arcanjo
Marcos Ferreira


O MORTO
Newton Navarro
[ in Subúrbio do silêncio, 1953 ]

Despido de azul e de paisagem
O morto está.
Silenciosa semente de carne
Aguardando as raízes.

Sem pai, sem mãe,
Sem casa,
Sem sono.
Até sem mortos
O morto está.

Não lhe resta lembrança alguma,
Ignora a tarde e as flores
Que o cobrem
E a escura casaca
Com que o vestiram um dia.

Não tem pranto nos olhos.
Não tem olhos,
Nem saudade,
Nem lembrança.

Nem ele mesmo se possui
Nem mesmo alma.

Apodrecida semente
Que espera raízes,
Assim o morto está:
Incompleto, inconseqüente
E só.

Sem presença
Sem confiança de que será terra,
Infinito,
Assim o morto está.

Os sinos da cidade
Não o despertarão nunca.
Por que, então, o vosso pranto, Senhora?


POEMA
Moacy Cirne

Qual a cor da Liberdade?
25 de Abril...
Qual a cor da Esperança?
25 de Abril...
Qual a cor de Portugal?
25 de Abril...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Expressões das paixões da alma
(1698)
Charles Le Brun


BALAIO PORRETA 1986
n° 2638
Rio, 24 de abril de 2009

Minha aproximação ao texto bíblico - assinale-se - é laica. Estou primacialmente interessado em poesia. (Por outro lado, como ver incompatibilidade entre sacralidade e poeticidade?)
(Haroldo de CAMPOS. Bere'shith - A cena da origem, 2000)


O LIVRO DOS LIVROS
(22)

Texto estabelecido por
Moatidatotatýne, o Escriba

As novas dúvidas do Senhor das Alturas

E o Altíssimo, entre uma lapada(¹) e outra da boa e velha manjopina(²), tendo queijo de coalho como parede(³), parou para pensar pensando. E pensou. E pensou. E repensou.

"E se Eu não existisse, o Mundo existiria? E se Eu não fosse o Tudo Absoluto, seria o quê? O Nada Relativo? O Nada Nadificante? Para Me responder, preciso voltar às origens, à poeira cósmica que Me forjou. Foi a partir daí que fundei o Seridó e toda a Terra e todo o Universo".

"Campos e Campos(ª¹), Criei-me Consciência, aCaso e Conhecimento: no começar criando o Cosmos: céufogoterrágua(ª²). E disse: seja Luz e Seridó. E foi Luz e Seridó. E Vi que a Luz era boa, e Vi que o Seridó era bom, muito bom. E assim começou o começo: começando".

"Por que duvidar, então, de Minha concretude? Eis-me aqui: travessia. Assim: duvido, logo acredito. Acredito, logo invento. Invento, logo questiono. Questiono, logo penso. Penso, logo existo(ª³). Por que duvidar, pois, de Minha concreção cosmológica e seridoense?"

"Que o Senhor das Sombras, e mais um tal de Moacy Cirne e muitos e muitos outros não acreditem em Mim, tudo bem! Mas que Eu próprio, o Todo Poderoso, o Infinito, o Infalível, o Grande Sertão, a Travessia, o Cara, não Me acredite, assim também já é demais!"

"De uma vez por todas: sou o Inverno, não sou o Inferno. Sou a Compreensão e não a Incompreensão. Sou a Construção e não a Desconstrução. Sou o Cinema e não o antiCinema(ªª¹). Sou o aTemporal e não o Temporal. Sou o Deus e não o Dem/o. Sou o que Sou: e Só!"

"E se às vezes fico puto da vida, costurando e bordando horrores, faço-o pelo bem da Humanidade. Se às vezes desejo destruí-la, desejo-o por amá-la. E Eu a amo porque Me amo. Ou não? Ou sim? Ou talvez? Assim é, é assim. Enfim: sou ou não sou, eis a questão(ªª²)".

Próximo capítulo:
O encontro com Anselmo de Cantuária

Notas dos Editores:

(¹) Lapada : Talagada, gole.
(²) Manjopina : Cachaça.
(³) Parede : Tira-gosto.
(ª¹) Possível referência a dois irmãos teólogos do século XX da Era Comum, de formação paulistana.
(ª²) Palavra-conceito cuja origem pode se encontrar na teologia dos irmãos supra-mencionados.
(ª³) Séculos depois, um filósofo francês, René Descartes assim nomeado, retomaria as Palavras Sagradas do Senhor das Alturas para construir o seu método especulativo.
(ªª¹) Passagem absolutamente enigmática d' O Livro dos Livros. O teólogo Ro-Rosemberg Aguiar acredita que se trata de uma alusão metafórica ao pintor e poeta José Lino Godard, autor de Acossado das Amérikas, obra do século XX da Era Comum.
(ªª²) Qualquer semelhança com o poeta WS, de épocas futuras, não passa de pura metaficção.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Capa da edição brasileira de
Viagem a Tulum,
obra-prima de Fellini & Manara,
um dos grandes quadrinhos italianos
dos anos 80



BALAIO PORRETA 1986
n° 2637
Rio, 23 de abril de 2009

raro escrevo. Vivo.
escrever é um verbo
intransitivo.
(Jarbas MARTINS. Contracanto, 1979)


10 POETAS POTIGUARES
Dácio Galvão

Luís da Câmara Cascudo
Jorge Fernandes
José Bezerra Gomes
Napoleão Paiva
Nei Leandro de Castro
Moacy Cirne
Carlos Humberto Dantas
Anchieta Fernandes
Miguel Cirilo
Marize Castro


LÁPIS
José Bezerra Gomes
[ in Antologia poética, 1974 ]

Confesso-me
de assim
ter sido

Ainda que não fosse mais


10 POETAS POTIGUARES
Humberto Hermenegildo de Araújo

Ferreira Itajubá
João Lins Caldas
José Bezerra Gomes
Jorge Fernandes
Luís Carlos Guimarães
Miguel Cirilo
Myriam Coeli da Silveira
Walflan de Queiroz
Palmyra Wanderley
Zila Mamede

CINECLUBE

Hoje é dia de poesia e música. Hoje é dia de verouvir homenagens musicais ao mundo do cinema. Hoje é dia de Lívio Oliveira e Babal, na Funcarte, em Natal. A partir de 19h. Hoje é dia do lançamento do cd Cineclube - um acontecimento na vida cultural natalense.


Repeteco
SOBRE VIAGEM A TULUM, DE FELLINI & MANARA
Moacy Cirne
[ in Balaio, n° 2027, de 26/07/2007 ]


Viagem a Tulum, de Federico Fellini & Milo Manara. Rio de Janeiro: Globo, 1992, 84p. [] Uma das mais belas e delirantes histórias-em-quadrinhos da segunda metade do século passado, a partir de um argumento para filme (nunca realizado) e que seria adaptado com brilhantismo invulgar por Manara, o desenhista de algumas obras-primas das HQs, como a genial Sonhar, talvez. Na verdade, Fellini, que dirigiu Os boas vidas, Noites de Cabíria, A doce vida, Oito e meio, Amarcord e outros filmes de sucesso, sempre foi um entusiasta dos quadrinhos. Como Alain Resnais. Como Jean-Luc Godard. Neste caso, para início de conversa publicou através de folhetim (em 1986) uma história que pretendia transformar em cinema; como não o fez, já que cinematograficamente irrealizável, ou quase, permitiu que Manara a adaptasse com bastante liberdade para a linguagem dos quadrinhos, participando, inclusive, da elaboração do roteiro em alguns momentos da feitura dessa autêntica novela gráfica.

O resultado final é admirável: em clima felliniano, entre a magia e o deslumbramento gráfico-sequencial, os dois personagens principais (um senhor e uma jovem) visitam uma lendária Cinecittà, à procura do próprio Fellini, e nela encontram algumas figuras de suas obras, vivenciadas por Giulitetta Masina, Anita Ekberg, além, claro, Marcello Mastroianni. A rigor, a jovem não sabe se está vivendo uma aventura real ou se está dentro de um filme aparentemente sem o menor sentido. O fato é que,
levada pelo chapéu do cineasta, se deixa afogar num lago artificial que contém mais elementos oníricos, numa viagem dionisíaca que seria sem lógica, para muitos e muitos. Aliás, é dentro do lago, marcado pelo simbolismo, que, num imenso avião, a jovem encontra Mastroianni, e mais uma vez Fellini. Quando o jumbo decola, com Mastroianni em seu interior, a história "decola". E um filme vai ser feito (por Mastroianni/Snaporaz como o diretor), com seus mistérios, suas fantasias, seus devaneios, suas impossibilidades, seus mitos quadrinhográficos, seus múltiplos caminhos que levam ao México e à sua cultura milenar.

São muitas as referências e homenagens metalinguísticas em Viagem a Tulum
, como, por exemplo, a Moebius (autor de outra instigante obra-prima dos quadrinhos: Arzach, visualmente excitante), ou mesmo, indiretamente, a Carlos Castañeda. Sem dúvida, navegamos em plena história por um beco sem saída temático, explicitado por aqueles que pensam o filme/quadrinho, como se o próprio cinema de Fellini, depois de anos, apontasse para algo indefinível, para algo indecifrável. No final, tudo parece ter sido um sonho, mas não se trata de um fim, e sim de um começo, ou recomeço, quando um novo e enorme avião aparece, do fundo do lago, voando para um inalcançável sistema de raízes criadoras além da imaginação visionária: uma imaginação que se desenha na película, mas também no papel. Algumas páginas são puro Manara redimensionando Fellini; outras, são puro Fellini sob a ótica gráfico-delirante de Manara, igualmente conhecido por seus quadrinhos eróticos de grande beleza visual. De certo modo, Viagem a Tulum é o último grande filme de Federico Fellini, sendo, ao mesmo tempo, uma das grandes HQs de Milo Manara.

quarta-feira, 22 de abril de 2009


Natal, na boca da noite,
antes de um toró, em abril de 2008
Fotos de
Mário Ivo
in
Cidade dos Reis


BALAIO PORRETA 1986
n° 2636
Rio, 22 de abril de 2009


Toda palavra traz em si a não-palavra
O maior silêncio está por vezes
No que se diz, contido
(Nilvaldete FERREIRA, in Da palavra. Sertania, 1979)


10 POETAS POTIGUARES
Paulo de Tarso Correia de Melo

Sanderson Negreiros
Nei Leandro de Castro
Deífilo Gurgel
Diógenes da Cunha Lima
Diva Cunha
Dorian Gray Caldas
Demétrio Diniz
Iracema Macedo
Antoniel Campos
Márcio de Lima Dantas
[Obs.: PTCM optou por indicar apenas poetas vivos]

10 POETAS POTIGUARES
Luiz Damasceno

Paulo de Tarso Correia de Melo
Diva Cunha
Nei Leandro de Castro
Jarbas Martins
Iracema Macedo
Sanderson Negreiros
Zila Mamede
Jorge Fernandes
Auta de Sousa
Luís Carlos Guimarães


POEMA
Diva Cunha
[ in Coração de lata, 1996 ]

Esses demônios
na madrugada
querem sair
em revoada
mas as janelas
estão fechadas.


POEMA
Ada Lima
[ in Menina Gauche ]

Ainda trago nas costas
as cicatrizes
das asas que me foram postas.

Não há invenção mais cruel que os altares.


10 POETAS POTIGUARES
Carito

Ada Lima
Adriano de Sousa
Antônio Francisco

Carlos Gurgel
Délio Miranda
Gustavo Luz
Jorge Fernandes
Juvenal Antunes
Marize Castro
Moacy Cirne

10 POETAS POTIGUARES
Luma Carvalho

Zila Mamede
Luís Carlos Guimarães
Iracema Macedo
Marize Castro
Diva Cunha
Antônio Francisco
Theo G. Alves
Iara Maria Carvalho
Wescley J. Gama
Lisbeth Lima

terça-feira, 21 de abril de 2009

Imagem de
Virgil Finlay
(1914-1971),
um dos grandes ilustradores
da ficção científica
em todos os tempos


BALAIO PORRETA 1986
n° 2635
Rio, 21 de abril de 2009


Literatura especulativa do imaginário em transe, muitas vezes com seus paradoxos temporais, seus simbolismos futurísticos, seus mundos alternativos, seu humanismo tecnológico, suas surpresas temáticas, a boa ficção científica - durante praticamente um século e meio - de 1818 a 1974, mais ou menos - primou pelo surgimento de bons narradores. O ingês J. G. Ballard (1930-2009), recentemente falecido, foi um deles. Nos anos 50 e 60 do século passado - sua melhor fase -, com apurado senso estético, Ballard sabia fazer da FC uma verdadeira aventura semiológica no solo significante
da criação literária.

(Moacy Cirne)


10 POETAS POTIGUARES
Falves Silva

1. Jorge Fernandes
2. José Bezerra Gomes
3. Zila Mamede
4. Miguel Cirilo
5. Anchieta Fernandes
6. Dailor Varela
7. Nei Leandro de Castro
8. Luís Carlos Guimarães
9. Marize Castro
10. Horácio Paiva


OBRAS EMBLEMÁTICAS PARA A HISTÓRIA
DA FICÇÃO CIENTÍFICA

Frankenstein (Shelley, 1818)
A narrativa de Arthur Gordon Pynn (Poe, 1838)
Viagem ao centro da Terra (Verne, 1864)
20.000 léguas submarinas (Verne, 1870)
A máquina do tempo (Wells, 1896)
A guerra dos mundos (Wells, 1898)
Lançamento da revista 'Amazing Stories'
(ed. Hugo Gernsback), em 1926
Publicação do conto
'A cor que veio do espaço' (Lovecraft, 1927)
Lançamento da HQ 'Flash Gordon'
(por Alex Raymond), em 1934
Os últimos e os primeiros homens (Stapledon, 1930)
O criador de estrelas (Stapledon, 1937)
Além do planeta silencioso (Lewis, 1938)
A legião do tempo (Williamson, 1938)
Engenheiros cósmicos (Simak, 1939)
Slan (Vogt, 1940)
Fundação, I (Asimov, 1942)
Loucura no universo (Brown, 1948)
O rei das estrelas (Hamilton, 1948)
Crônicas marcianas (Bradbury, 1950)
O homem sintético (Sturgeon, 1950)
Eu, robô (Asimov, 1950)
O homem ilustrado (Bradbury, 1951)
Cidade (Simak, 1952)
O homem demolido (Bester, 1952)
O fim da infância (Clarke, 1953)
Mais que humanos (Sturgeon, 1953)
Os frutos dourados do sol (Bradbury, 1953)
Os mercadores do espaço (Pohl & Kornbluth, 1953)
Eu sou lenda (Matheson, 1954)
Marcianos, go home (Brown, 1954)
Intocado por mãos humanas (Shecley, 1954)
O fim da eternidade (Asimov, 1955)
A cidade e as estrelas (Clarke, 1956)
Tigre! Tigre! (Bester, 1956)
Um cântico para Leibowitz (Miller Jr., 1959)
Nove amanhãs (Asimov, 1959)
As sereias de Titã (Vonnegut Jr., 1959)
A aldeia dos malditos (Wyndham, 1960)
As noites marcianas (Fausto Cunha, 1960)
Solaris (Lem, 1961)
Um estranho numa terra estranha (Heinlein, 1961)
O homem do Castelo Alto (Dick, 1961)
Fuga para parte alguma (Jerônimo Monteiro, 1961)
Billenium (Ballard, 1962)
Hothouse (Aldiss, 1962)
Estação de trânsito (Simak, 1963)
Duna (Herbert, 1965)
O mundo de cristal (Ballard, 1966)
Mindswap (Sheckley, 1966)
Babel-17 (Delany, 1966)
A segunda invasão marciana (Strugatski, 1967)
Lançamento do filme
'2001: uma odisséia no espaço' (Kubrick), em 1968
Campo de concentração (Disch, 1968)
Os andróides sonham com ovelhas elétricas? (Dick, 1968)
A mão esquerda da escuridão (LeGuin, 1969)
O planeta de Neanderthal (Aldiss, 1969)
Mundo circular (Niven, 1970)
O rio da vida (Farmer, 1971)
Encontro com Rama (Clarke, 1973)
Os despossuídos (LeGuin, 1974)
Os melhores entre os melhores livros de FC
segundo a nossa leitura
crítico-afetivo-libertinária:
1. Crônicas marcianas
2. Billenium
3. A cidade de as estrelas
4. Solaris
5. Um homem numa terra estranha
6. Guerra dos mundos
7. Além do planeta silencioso
8. Cidade
9. O mundo de cristal
10. O homem do Castelo Alto

Nota:
Em Natal,
o jornalista Alex de Sousa
e o escritor José Maria Rocha
são grandes conhecedores de FC.


10 POETAS POTIGUARES
Charlier Fernandes

Jorge Fernandes
José Bezerra Gomes
Zila Mamede
Luís Carlos Guimarães
Luiz Rabelo
Sanderson Negreiros
Nei Leandro de Castro
Jarbas Martins
Horácio Paiva
Marize Castro

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Saturno devorando seus filhos
(1819-23),
de
GOYA


BALAIO PORRETA 1986
n° 2634
Rio, 20 de abril de 2009

As pessoas imaginam que o lugar que a Bíblia ocupa no mundo se deve a milagres. Deve-se simplesmente ao fato de que ela se origina de uma profundidade de pensamento mais intensa do que qualquer outro livro.
(Ralph Waldo EMERSON, 1839, in O Livro de J, 1990)


O LIVRO DOS LIVROS
(21)

Texto estabelecido por
Moatidatotatýne, o Escriba

A partida para Janduís

E Moysés Sesyom do Sertão, aconselhado pelo Senhor das Alturas, concluiu que chegara a hora da partida. E a partida se fez. E se o destino era o Seridó, necessário se fazia percorrer um caminho tortuoso, mais longo, em direção ao norte, para atingir seu objetivo, ao sul, fronteirando com a Parahyba. Jumentos e mais jumentos, centenas deles, foram então mobilizados para a travessia do sertão potiguar. E todos, homens e mulheres, velhos, jovens e crianças, gordos e magros, sadios e adoentados, passaram a ter bastante tempo para que pudessem estudar e decorar os Dez Mandamentos, guardados religiosamente no Baú da Aliança.

E Moysés Sesyom do Sertão reuniu os seridoenses fiés e pregou em plena terra assolada por mais uma seca, com o sol rachando o quengo dos sobreviventes: "Muitos não entenderam o Sétimo Mandamento da Lei Divina, como aqueles pervertidos que, Provocadores Unidos dos Tarados Orgânicos do Seridó - os PUTOS, foram se juntar a Barcellus Bobs e Falves Selva, no Beco da Lama, na Cidade dos Reys. Mas é tudo muito simples: não esqueçamos que, segundo a natureza humana, desde os tempos dos ancestrais Severino e Raimunda, expulsos do Jardim do Seridó, não esqueçamos, repito, que a mulher é propriedade do homem".

E Moysés Sesyom do Sertão disse mais: "Homens do Seridó, poderás trepar à vontade, desde que não seja com priquitas alheias. Mas, para o bem geral de todos e a felicidade geral do povo seridoense, a fecundidade é fundamental. Se uma mulher for estéril, permitar-se-á que um homem durma com outras mulheres, desde que solteiras. Só não será permitido que ele durma com suas irmãs, suas filhas e suas sobrinhas. Não nos esqueçamos: é preciso povoar toda a terra e fazer com que dela brote a Palavra Sagrada do Senhor das Alturas. Não importa se as nossas sertanejas sejam um obscuro objeto de desejo ou não, como no filme de um tal Buñuel".

E um grupo de mulheres, liderado por Ana do Seridó e Jeanne de Acari, além de Hercília de Caicó, e mais Eliane de São José, e mais Gracinha de Jardim, e mais Maria de Currais Novos, e mais Erotildes de Caicó, não gostou do que ouviu. E pensou seriamente em fundar uma nova ala dissidente. Mas o grupo repensou a questão quando Moysés Sesyom do Sertão completou a pregação: "Em futuro próximo, antes que o Rio Seridó bote água de barreira a barreira(ª), as mulheres terão a mesma importância dos homens. Com sua inteligência, sua sabedoria, sua paciência, sua sensibilidade, sua beleza, saberão se impor com dignidade e maturidade".

Nove meses depois, finda a experiência de Janduís, quando os habitantes locais foram conquistados pelas palavras do Senhor das Alturas, os peregrinos do patriarca rumaram em direção de Açu, ainda mais ao norte. E em lá chegando, quase todos trabalharam na construção de um grande açude, o Açudão de Açu, o maior da região. Por sua vez, o Senhor das Alturas resolveu descansar: precisava, pela milésima vez, refletir sobre o futuro da humanidade e sobre a sua própria essência ontológica como ser concreto, mesmo que, naquele momento, estivesse com o pensamento voltado para Ava Gardner, o mais belo animal do mundo. Afinal, ninguém é de ferro. Nem mesmo Ele, o Inclemente, o Bondoso, o Altíssimo, o Maioral, a Singularidade Absoluta - o Senhor das Alturas.

Próximos capítulos:
22. As novas dúvidas do Senhor das Alturas
23. O encontro com Anselmo de Cantuária
24. O Livro dos Provérbios

Nota:

(ª) De barreira a barreira : De margem a margem, quando o rio, nas enchentes, auroram suas águas por todos os lados. [Trata-se, evidentemente, de uma previsão metafórico-atemporal, afinal as enchentes dos rios, excetuando-se os períodos de longas estiagens, podem ocorrer com certa regularidade; quando muito, demoram cinco ou seis anos a acontecer.]

domingo, 19 de abril de 2009

Sangria do Gargalheiras,
em Acari, RN:
os açudes do Seridó já começaram a sangrar

Foto:
Alex Gurgel,
in
Grande Ponto


BALAIO PORRETA 1986
n° 2633
Rio, 19 de abril de 2009

Algumas vezes também é agradável perder a razão.
(Menandro, séc. III aC)


10 POETAS POTIGUARES
Mário Ivo Dantas Cavalcanti

Ada Lima
Adriano de Sousa
Diva Cunha
João Lins Caldas
Jorge Fernandes
José Bezerra Gomes
Marize Castro
Paulo de Tarso Correia de Melo
Sanderson Negreiros
Zila Mamede


POEMA
Ada Lima
[ in Menina Gauche ]

Não sei falar, por isso escrevo.
Mas estou desaprendendo a escrever.


CASABLANCA
Adriano de Sousa
[ in Poesia. Natal, 2008 ]

play, sam
play as time goes by
porra, estou farto de ouvir esses velhos escrotos
citando-me em falas que não são minhas
e que eles rolam entre os dedos
como ranho de nostalgia impotente
por uma nuvem de vestido azul
um mcguffin sentimental de merda
para fazê-los engolir sem engulhos
a porra da propaganda de guerra
a porra da aliança dos babacas franceses
com os babacas do meu país
play, sam
play as time goes by
se ela pode eu também posso, caralho



10 POETAS POTIGUARES
Alexandro Gurgel

1. Ferreira Itajubá
2. Jorge Fernandes
3. Othoniel Menezes
4. Myriam Coeli da Silveira
5. Zila Mamede
6. Luís Carlos Guimarães
7. Francisco Ivan
8. João Gualberto
9. Marize Castro
10. Antoniel Campos


Almanaque
NOMES ESTRANHOS DE SERIDOENSES

Derossi de Medeiros Mariz
Vergniaud Lamartine Monteiro
Artéfio Bezerra da Cunha
Arécio Batista de Faria
Eulâmpio Pereira Mariz
Delsuíte Araújo de Brito
Delsulene Araújo de Brito
Vigolvino Pereira Mariz
Jamaildo Juvenal de Araújo
Davanzate Nazário de Medeiros
Osmêndia Santina de Araújo
Zurbaran de Brito Pereira

[ Fonte: Personagens serra-negrenses, de Pery Lamartine ]