sexta-feira, 31 de outubro de 2008


Clique na imagem
para verouvir
a famosa seqüência
de Cyd Charisse & Fred Astaire
"dançando no parque"
em
The bandwagon / A roda da fortuna
(Minnelli, 1953)


BALAIO PORRETA 1986
n° 2467
Rio, 1 de novembro de 2008

A roda da fortuna, tal como a maioria dos musicais, fala-nos do compromisso do casamento de tendências antagônicas. As personagens, por exemplo, exemplificam a batalha travada entre a a cultura popular e a erudita ... Esta fusão estética dá origem a um romance, imortalizado pelo pas de deux em Central Park ('Dancing in the Dark').
(Adrian Martin. 1001 filmes para ver antes de morrer, 2003)


Cinema/Revisão
OS MELHORES FILMES MUSICAIS


1. A roda da fortuna (Minnelli, 1953)
2. Cantando na chuva (Kelly & Donen, 1952)
3. Amor, sublime amor (Wise & Robbins, 1961)
4. Sinfonia de Paris (Minnelli, 1951)

Nota:
Embora Cantando na chuva permaneça o mais emblemático dos filmes musicais, hoje, depois de mais uma revisão, a minha preferência - até segunda ordem - se volta para A roda da fortuna, que, aliás, vi pela primeira vez em fevereiro de 1954 no São Luiz, de Recife.


De resto...
(cartaz de autoria não identificada,
cuja matriz gráfica e temática é
Shepard Fairey)

Clique na imagem
para verouvir
o democrata Obama
falando numa igreja
sobre política & religião,
a partir de uma sugestão
in
Substantivo Plural,
encaminhada por Pablo Capistrano

Copacabana,
anos 10 do século passado
via
Ana de Toledo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2466
Rio, 31 de outubro de 2008

Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com coroas de mentiras, e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite.
(Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana, 1958)


CLARIVIDÊNCIA
Lara de Lemos
[ in Dividendos do tempo. Porto Alegre, 1995 ]

Respiro teu cheiro
de suor e fogo,

tateio o mapa inteiro
de teu corpo.

Sei de teus meridianos,
das águas do oceano

que te habitam
em frêmito e espanto.

Sem reter o mistério
deste ecanto, pressinto

o beijo derradeiro
e redescubro o pranto.

A BIBLIOTECA DOS MEUS SONHOS

Folclore do Brasil, de Luís da Câmara Cascudo.
Rio de Janeiro; São Paulo; Lisboa : Fundo de Cultura, 1967, 254.
Em tempos de americanização/globalização, com sua dominação cultural, nada mais apropriado do que uma volta ao conhecimento de nossas raízes folclóricas e/ou populares. Neste sentido, Cascudo continua sendo uma referência importante para todos nós. Múltiplo é o universo de Cascudo, que envolve os mais variados interesses, inclusive no campo alimentar, por exemplo: "O problema é fixar-se o que é folclórico e o que pertence à Etnografia nessa viagem pela alimentação popular brasileira" (p.101). A verdade é que não podemos esquecer do seguinte: "A História, a Etnografia, a Arqueologia revelam a riqueza incalculável da nossa 'universalidade' e da nossa 'velhice' funcional e consuetudinária" (p.11).


DESIDERATO
Pavitra
[ in Metamorfraseando ]

tenho a urgência dos incêndios
em meus poemas
amo os versos que não posso
e ardem

quarta-feira, 29 de outubro de 2008


BALAIO PORRETA 1986
n° 2465
Rio, 30 de outubro de 2008


A nós sempre interessou a imagem não como invólucro da barbárie, mas como subversão. ... Para o bem ou para o mal, a mulher será sempre mostrada e vista como uma obra-prima
a ser desvendada.

(Luiz Rosemberg Filho & Sindoval Aguiar,
in Via Política)


TEXTOPOEMA
Mário Ivo Cavalcanti
[ in Cidade dos Reis ]

me pedem que eu escreva
eu escrevo
digo
apenas não publico
me pedem que eu escreva
como se fosse indolor
como se não machucasse dedos e artelhos nos escolhos
me pedem que eu escreva
como se nada fosse
flanar pelos bairros altos
cidades ocultas
expondo as vísceras sob as costelas
nervos atados às vértebras
como se eu tivesse mil braços e mãos para segurar a longa fila de intestinos e tripas e tendões e vasos
artérias e veias
me pedem que eu escreva como se não fosse constrangedor andar por aí coberto de sangue urina e fezes
como se o mundo fosse uma incubadora anti-germens e a mim fosse dado direito e dever da impunidade e do salvo-conduto
invisibilidade de herói
mas o pior
creiam-me
o mais terrível
é ser obrigado a caminhar com a deselegância de dores crônicas tão antigas quanto o arco
tão venenosas quanto a frecha
fingindo uma elegância e estilo mui apropriados às feras entre feras
me pedem
então
que eu escreva
e eu repito
não é que não escreva
apenas não publico
porque dói caminhar sobre o fio da navalha sem direito ao desequilíbrio
sem o perdão do abismo
sem o frescor de uma esperança sempre adiada
me pedem e não sabem o que me pedem
me pedem sonhos
eu
que nunca durmo
me pedem sorrisos
eu
que nunca choro
a não ser no escuro
tarde
noite
quando o animal me empurra o peito e sufoca qualquer som e palavra.


POEMA
Miguel Cirilo
[ in Os elementos do caos, 1964 ]

o corpo branco no chão
não faz esforço.
a luz circula na intimidade.
a nudez é antiga,
o quarto também.
as palavras estão se arrumando
para um novo poema.
as coisas, postas em sossego
repousam de qualquer modo.
anônima é a presença da noite.
os chinelos esperam.
eles não sabem, mas esperam.
- pode alguém exigir mais para dormir?


Humor/Repeteco
PAGAR O QUÊ?
por Hugo Macedo
[ in Beco Estreito. Natal, 2006 ]

Mané Bonitim [de Parelhas, RN] estava "doido" pra tomar uma de cana na festa de Acari [cidade vizinha, em pleno Seridó]. Mas, como não tinha um tostão no bolso, não contou conversa: com sua astúcia, chegou no bar central da cidade, e pediu ao balconista:

- Bota aí um café, cabra!

O inocente homem atendeu de prontidão, mas, antes mesmo do primeiro gole, Bonitim falou:

- Amigo, você poderia trocar o café por uma chamada de cana? Parece que a festa tá boa, né?

- É, posso. Disse o acariense.

Aproveitando a distração do atendente, Mané Bonitim engoliu a cachaça de uma só vez e foi saindo de fininho sem pagar, quando o dono do bar o abordou já na calçada:

- Ei! Pague a cachaça, rapaz!

- Que cachaça? Eu não troquei pelo café?

- Então, pague o café!

- E eu bebi café?

Foto de
Paulo Almeida
in 1000 Imagens
redimensionada
com azul, verde e espanto
por
Moacy Cirne


BALAIO PORRETA 1986
n° 2464
Rio, 29 de outubro de 2008

Questões técnicas suspenderam a produção diária do Balaio.
Aparentemente, os problemas encontram-se superados.
A luta e a poesia continuam, agora e sempre.


A SILHUETA
Celso Japiassu
[ in Uma Coisa e Outra ]

A silhueta transpõe
os limites do muro:
é um desenho de sombras.

Os braços revolvem os traços
e ampliam imagens
impregnadas de chuva.

As portas se abrem
e as retinas de um velho se fecham
em solilóquio mudo.

A cidade desperta pelos ventos,
murmúrio
no vazio dos espaços.

Sem origem ou nome,
acompanha uma palavra,
inania verba, seus íntimos ruídos.

Ruas desaguam como rios
e canalizam os ventos, sopram
memórias em oceanos represados

no estuário das distâncias,
à margem das arquiteturas
num gesto construídas.

Um cão mistura-se à poeira,
gane, rasteja para as sombras,
perscruta o enigma, corre e some.

Na fronteira da noite, surge o dia,
a tarde ensolarada, e um gemido
libera o sentimento que o prendia.

Os sons reproduzem vidas primitivas,
existências afogadas,
mares antigos.

Testemunha de ausências,
este é o mar que acompanha
o vento chegar a seu destino.


DO POEMA
Jarbas Martins
[ in Contracanto. Natal, 1979 ]

O poema é o hábil gesto
que envergonha a mão.
Vestígio do incesto,
lesão.

É o canto imaginário
ou tubo de explosão,
emissor do contrário:
Não.

ItálicoMistério sem história
e iniciação
retido na memória
de um grão.

Armadilha, aresta,
redoma e desvão,
- o poema é o que resta.
Temporão.


PEDRAS DE TOQUE DA POESIA BRASILEIRA
[ Cf. José Lino Grunewald, 1996 ]

perdido entre signos
decifro devoro
persigo persigno
(Carlos Ávila, perdido entre signos)

(A) poesia é pura?
a poesia é para
de barriga vazia.
(Haroldo de Campos, Servidão de passagem)

Poesia é voar fora da asa.
(Manoel de Barros, Uma didática da invenção - XIV)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008


Foto de
Sascha Huettenhain
redimensionada
com sal, sol e solidão
por
Moacy Cirne


BALAIO INCOMUN 1986
n° 2463
Rio, 23 de outubro de 2008

Amanheci minha aurora.
(Guimarães ROSA. Grande sertão: veredas, 1956)


JULIETA NUMA NOTA SÓ
Mariana
[ in Suave Coisa ]

eu te quero tanto que meus olhos se magoam


ORIGEM
Adão Ventura
[ in Tanto Literatura ]

Vestir a camisa
de um poeta negro
- espetar seu coração
com uma fina
ponta de faca
- dessas antigas,
marca Curvelo,
em aço sem corte,
feito para a morte

- E acomodar
no exíguo espaço
de uma bainha
sua dor-senzala.

ENTRETANTAS
Sheyla Azevedo
[ in Bicho Esquisito ]

Eu te escolhi
E assim, me esqueci
De como é que se faz
Pra não ficar
Entretantas
Flores, árvores, selvas
Sonhos e desilusões.
Mas aí
Quando eu vi
Já não tinha meus olhos de olhar
Só de sentir



UMA PEDRA DE TOQUE:
Teus lábios têm o sabor e
o prazer de um orgasmo.
(Bené Chaves,
Ardor,
in O Apanhador de Sonhos)


RECOMENDAMOS:
Ela não gostava de Chico Buarque,
conto de Francisco Sobreira,
in Luzes da Cidade.

terça-feira, 21 de outubro de 2008


Clique na imagem
(fotocolagem de Rodtchenko
para poema de Maiakóvski
- duas vítimas do stalinismo -,
a partir de O Refúgio),
para verouvir
Leon Trotsky
em discurso contra
os terríveis Processos de Moscou,
nos anos 30 do século passado.

BALAIO PORRETA 1986
n° 2462
Rio, 22 de outubro de 2008

Sim, Maiakóvski é o mais viril e o mais corajoso de todos os que, pertencendo à última geração da velha literatura russa e ainda por ela não reconhecidos, procuraram criar laços com a Revolução. Sim, ele desenvolveu laços infinitamente mais complexos que todos os outros escritores. Um dilaceramento profundo nele permanecia. Às contradições, que a Revolução comporta, sempre mais penosas para a arte, na busca de formas acabadas, somou-se, nos últimos anos, o sentimento do declínio a que o conduziram esses burocratas. Maiakóvski, pronto para servir à sua época, pelos mais modestos trabalhos cotidianos, não podia aceitar uma rotina pseudo-revolucionária.
(Leon TROTSKY. O suicídio de Maiakóvski, maio de 1930)


NACOS DE NUVENS
Vladimir Maiakóvski (1893-1930
Trad. Augusto de Campos
[ in Poesia russa moderna ]

No céu flutuavam trapos
De nuvem - quatro farrapos:

do primeiro ao terceiro - gente;
o quarto - um camelo errante.

A ele, levado pelo instinto,
no caminho junta-se um quinto.

Do seio azul do céu, pé-ante-
pé, se desgarra um elefante.

Um sexto salta - parece.
Susto: o grupo desaparece.

E em seu rasto agora se estafa
O sol - amarela girafa.

1917-18



A beleza da mulher angolana
em foto da Galeria de
Kool2bBop


INSTANTÂNEO DE SEMÁFORO
Décio Bettancourt Mateus (angolano)
[ in Mulembeira ]

Olho e sorrio
E assobio…
É bonita,
Ela olha e fita
Zombateira
E gosta da brincadeira

Olho e aprecio
E elogio
Que belezura
Ela olha a procura
Está interessada
Está caída!

Olho e gosto
Que rosto
É o máximo
Ela olha e chega próximo
Que encanto
Que momento!

Olho e aposto
E conquisto
Quero-te filha
É amor à primeira vista
Ela olha e brilha
Não estás na lista!

Olho e vibro
E sou outro
É ela
A minha estrela
Ela sorri, como te chamas
E diz se me amas

Olho e insisto
Não desisto
Digo-lhe o nome
E peço-lhe o telefone
O verde acendeu
E o carro dela arrancou, desapareceu!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008


Foto in
Amante das Imagens
redimensionada
com mel e cheiro de goiaba enluarada
por
Moacy Cirne


BALAIO PORRETA 1986
n° 2461
Rio, 21 de outubro de 2008


Diadorim do meu amor: põe o teu pezinho em cera branca que eu rastreio a flor de tuas passadas.
(Guimarães ROSA. Grande sertão: veredas, 1956)


ESBOÇO
Gilka Machado
[ in Sublimação, 1938 ]

Teus lábios inquietos
pelo meu corpo
acendiam astros...
E no corpo da mata
os pirilampos,
de quando em quando,
insinuavam
fosforescentes carícias...
E o corpo do silêncio estremecia,
chocalhava,
com os guizos
do cri-cri osculante
dos grilos que imitavam
a música de tua boca...
E no corpo da noite
as estrelas cantavam
com a voz trêmula e rútila
de teus beijos...


EXPRESSÕES POPULARES SERIDOENSES (1)
[ Cf. Max Antonio Azevedo de Medeiros, 2007 ]

A merda virou boné : Deu tudo errado; Armou-se a maior confusão.
Afundar no mundo : Fugir; Desaparecer.
Agora vi bosta : Era só o que faltava.
Amarrar o gato : Embriagar-se.
Arear a fivela : Dançar agarrado, colado.
Arriar o barro : Defecar.
Até a gata miar : Até o fim.
Avoar no mato : Jogar fora; Jogar no lixo.
Besta de cagar rodando : Diz-se do sujeito inconveniente, bobo.
Bucho furado : Diz-se da pessoa tagarela, que fala muito.
Cabelo de cu de mocó : Diz-se dos cabelos avermelhados.
Cagar o cibazol : Falhar; Decepcionar.
Cair de cu trancado : Morrer subitamente.
Cão chupando manga : Diz-se do indivíduo encrenqueiro, feio, horrível.
Carregar água em balaio : Fazer esforço inútil; Perder tempo.
Casado na igreja verde : Amasiado; Amigado; Amancebado.
Chamar aos carretéis : Repreender energicamente.
Cheio de guere-guere : Cheio de manha, de lero-lero.
Chorar a morte da bezerra : Lastimar-se de um fato irremediável.
Chupar o ovo : Bajular; Adular. [Baba-ovo : Bajulador; Lambe-cú.]
Chuva de sapo pedir canoa : Chuva torrencial.
Com a bexiga lixa : Enfurecido; Com raiva.
Com a gota serena : Enfurecido; Com raiva.
Cor de burro quando foge : Cor estranha, indefinida.
Cortar a noite : Passar a noite acordado.
Cu de burro : Confusão; Desordem.
Cu de cana : Cachaceiro; Beberrão.

Nota: Algumas dessas expressões são de uso(mais ou menos) comum em várias regiões do Nordeste.

[ Fonte: Palavreado cá de nós. Caicó, 2007 ]

Clique na imagem
(poemacolagem de
Luiz Rosemberg Filho)
para verouvir
uma surpresa
emblemática,
em versão de Billy Bragg


BALAIO PORRETA 1986
n° 2460
Rio, 20 de outubro de 2008



Arquivos do Balaio

Por mais desconfiança que tenhamos da sinceridade dos que nos falam, sempre julgamos que a nós eles dizem mais verdade que aos outros. (La ROCHEFOUCAULD. Reflexões e máximas morais [1664-78]. São Paulo: Cultrix, 1962, p.95)


BALAIO INCOMUN n° 1934
Desde 1986
Rio, 18 de janeiro de 2007


UM GATO chamado Mussorgski
de Rosa Amanda Strausz (RJ)
[ in Fábula Portátil ]

Chove lá fora.
Mas só os olhos do pintor vertem água.


DE LÍRIO e encantamentos
Bosco Sobreira (CE)
[ in Policamente Incorreto, desativado ]

essa moça
me roubou a poesia
e a guardou
bem guardado
encantada em sendas
vales
montanhas
colinas
e
florestas
e
lírio
e amanheceres

vez em quando
(só por demais bem-querer)
ela ma devolve
inteira
(acrescida sempre de um muito mais)
quando se veste de
nua


POEMA de
Ana de Santana (RN)

Hanan-Pacha

Território mito
De antes do medo
Acompanha-me lírico
Cavalos selvagens

Território seco
De tempos e tempos
Fixa-me ao chão
Talento de chique-chique

A memória voragem
Em Grand Reino
De versos bastardos:
Bandoleiros
Saqueando feiras.
Primado de saias
Seios e valas.

UMA TORRE BÍBLICA

A historinha a seguir, contada por Valério Mesquita, de Macaíba, RN, foi vivenciada por François Silvestre, escritor e ex-presidente da FJA, de Natal. Vejamos como o cronista e político macaibense a contou: Muitas são as atribuições enfrentadas pelo presidente da Fundação José Augusto. Pedidos de emprego eram rotinas que desafiavam a capacidade do escritor François Silvestre. Certa vez, foi procurado por um pai extremado que defendia com ardor um cargo comissionado para a sua filha. "Dr. François, a minha filha fala corretamente quatro idiomas. Onde o senhor pode colocá-la?". Sem se perturbar, com a mão esquerda segurando a cabeça, silencioso, François, suspirou: "Só se for na Torre de Babel" (Valério MESQUITA, Aqui e alhures, in Tribuna do Norte, 16/01/2007, em Artigos).


[][][] Em 20/10/2008 [][][]

HISTÓRIA
Hildeberto Barbosa Filho
[ in Eros no Aquário, 2002 ]

(para Eleonora Montenegro)

Faz tempo
que garimpo a alma
das palavras.

Faz tempo
que estou morrendo
na ânsia do último verso.

domingo, 19 de outubro de 2008


Clique na imagem
(capa de livro redigitalizada)
para verouvir
Rita Lee & Milton Nascimento
interpretando
Mania de você


BALAIO PORRETA 1986
n° 2459
Rio, 19 de outubro de 2008

Ah, jovens putas das tardes
O que vos aconteceu
Para assim envenenardes
O pólen que Deus vou deu?
(Vinicius de Moraes, in Balada do Mangue)


PARA QUEM SÓ LIDA COM PALAVRAS LÍQUIDAS
Pavitra
[ in Metamorfraseando ]

para Mariana

de você
que só lida
com poesia
sempre espero
o inevitável:

que se derramem
suas palavras
e molhem meus olhos
e salguem meus lábios


Agora tua voz ceifa no campo devastado
erguendo estátuas de som
(Lucy Teixeira, in Primeiro palimpsesto)
[ Cf. José Lino Grunewald, 1996 ]


SÁBADO
Carito
[ in Os Poetas Elétricos ]

hoje
só quero dançar

me escondo
da poesia

sempre que ela aparece
revela
a minha dor

sábado, 18 de outubro de 2008


Clique na imagem
(de Angola [autoria desconhecida])
para ouvir
o músico angolano
Rui Mingas
interpretando
Quem tá gemendo


BALAIO PORRETA 1986
n° 2458
Rio, 18 de outubro de 2008

Eu vos sinto
negros de todo o mundo
eu vivo a vossa Dor
meus irmãos.
(Agostinho NETO, in Voz do sangue)



Tela de
Thó Simões


AFRO-DITE
Namibiano Ferreira

I
Teu corpo
suavidade
carnal
cantando
escondida
nas ondas
do mar.
II
Teu rosto
negra
textura
proliferando
entranhada
nesses lagos
marinhos.


A MINHA CASA
Décio Bittencourt Mateus
[ in Mulembeira ]

A minha casa
É fácil de localizar
É fácil de encontrar,
Basta ires sempre em frente
Para além da linha do horizonte
É fácil concerteza

Primeiro encontras lixo
Lixo e pessoas em convivência
E em harmonia,
Lixo na parte de baixo
E na parte de cima
Lixo e pessoas em convivência íntima

Mais adiante
E com o mau cheiro crescente
Encontras uma lagoa
E nela, crianças a banharem
Crianças a brincarem
Na maior, numa boa

Mais a frente
Entras em becos estreitos
Becos pequenos e apertaditos
É fácil, é só teres isto em mente
Becos e suas enxurradas
Becos e suas águas estagnadas

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
Lá onde a água corrente
Lá onde a água potável
Passa muito distante
E da cor do invisível!

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
Lá onde a luz eléctrica
Connosco brinca
Qual nuvem passageira
Que ora vai, ora vem zombateira!

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
Cheiro de kaporroto* no ar
Cheiro de kimbombo** a vibrar
Nossas bebidas do dia-a-dia
Nossas bebidas nossa companhia

E no quintal da minha casa
Há jovens a falar alto bêbedos
Jovens cansados, frustrados e arrebentados
São os meus kambas***
Kambas das bebedeiras e das malambas****
É fácil de localizar concerteza,

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte!

Notas:
* Bebida caseira angolana
** Bebida caseira angolana
*** Amigos
**** Problemas, tristezas

sexta-feira, 17 de outubro de 2008




Retrato de uma roqueira dos anos 70
na Caicó de Todos os Seridós
ou
Quem Medo da Mona Lisa?
por
Moacy Cirne

E mais:


Imagem:
Orsolya Belog
in
AltPhotos


BALAIO PORRETA 1986
n° 2457
Rio, 17 de outubro de 2008



Arquivos do Balaio

Quem vive sem loucura não é tão sensato quanto imagina. (La ROCHEFOUCAULD. Reflexões e máximas morais [1664-78]. São Paulo: Cultrix, 1962, p.66)

BALAIO INCOMUN n° 1937
Desde 1986
21 de janeiro de 2007

Tesourapress
HUMANO, DEMASIADO FRÁGIL
Sanderson Negreiros (RN)
[ in Tribuna do Norte, em Quadrantes ]

1. Conta-se que Padre Mota, experimentado conhecedor da natureza humana e que, durante a existência inteira, marcou a vida de Mossoró, certa vez recebeu no confessionário uma dama que, penitente, foi logo dizendo:

- Padre Mota, meu grande pecado é o orgulho.
O vigário, bonachão e curioso daquele testemunho tão veraz e eloqüente, foi perguntando:
- Minha filha, você é rica?
- Não, senhor.
- Você é bonita, elegante, charmosa?
- Não, senhor.
- Você é inteligente, tem cultura?
- Não, senhor.
- Me diga uma coisa: você é de uma família muito importante?
- Não, senhor.

E Padre Mota, do alto de seus sapatos de fivela - sapato de monsenhor protonotário apostólico - perdeu certa paciência magnânima e foi, como sempre, sincero e objetivo:

- Então, minha filha, você não é orgulhosa. Você é muito é da besta.

E anotemos na nossa agenda: quantas vezes na vida pensamos que agimos por orgulho, quando, na realidade, o que somos mesmo é donos da besteira universal, unânime e concreta. A besteira da arrogância.

2. Leio nas memórias de Vitorino Freire uma passagem deliciosa com Benedito Valadares, mestre da matreirice política de Minas Gerais. Certa vez, Vitorino, senador pelo Maranhão, mais o senador Gilberto Marinho, conversavam com Benedito, autor inclusive da famosa frase: "Estou rouco de tanto ouvir". O velho pessedista mineiro, que Getúlio retirou do anonimato de Patos de Minas, onde era humilde dentista, e o fez interventor por quase quinze anos. Consabidamente não falava, mas era de uma sabedoria política inquestionável. Dele também é a sábia advertência: "Só realize reunião quando tiver decidido tudo antes. Reunião é feita para aprovar". Certo dia, Benedito estava conversador mais do que a medida permitida pela prudência mineira. Vitorino e Gilberto Marinho ficaram em silêncio, vendo e ouvindo a desenvoltura do velho Valadares. Mas, mal discorria, Benedito pára e cala. Vitorino interroga:

- Benedito, por que você parou de falar?
E a matreirice responde:
- Parei porque vocês estavam prestando muita atenção no que eu estava dizendo.

3. A melhor história que ouvi até hoje, elejo uma a mim contada por João Batista Machado, o nosso Machadinho. Acontece que Padre Sales, venerando sacerdote mossoroense, ao completar 80 anos, recebeu homenagens merecidas, culminando com um banquete. Ao agradecer todos os elogios de seus ex-alunos e amigos, foi de uma sábia franqueza: "Meus conterrâneos, ao agradecer tantas louvações, quero dizer-lhes o seguinte: Depois de ser vigário nestas paróquias todas do Oeste, andando a cavalo e jumento, subindo e descendo serras, usando essa batina preta e grossa, com 40 graus de calor, quero concluir, dizendo: - Se esse tal de céu não existir, ô tabocada que eu levei... Isso sem esquecer os votos que fiz e cumpri fielmente: o da castidade, pobreza e obediência".

É demais para um pobre vivente - mesmo sendo Servo de Deus. Hoje, obviamente, mais difícil ainda.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008


Seridó que te quero Seridó:
a Serra do Mulungu ao amanhecer,
em São João do Sabugi

Foto de
Anchieta França,
in blogue de
João Quintino


BALAIO PORRETA 1986
n° 2456
Rio, 16 de outubro de 2008


a poesia queima nas mãos do poeta
como um fogo que ele alimenta
(Mariana, in Suave Coisa, 17/07/2008)


PEDRAS DE TOQUE DA POESIA BRASILEIRA
[ Cf. José Lino Grunewald, 1996 ]

fujo da dor, da lágrima maldita
e me aqueço sozinho ao fraco lume.
(Júlio Cesar Prado Leite, Soneto)

Noite. O céu como um peixe, o turbilhão desova
de estrelas a fulgir. Desponta a lua nova.
(Emiliano Perneta, Dor)

Nossos pés se encontram no caminho
e nós, em nossos pés.
(Francisco Marcelo Cabral, É noite)

[As] nuvens, colossais dromedários de chumbo.
(Duque Costa, A tempestade)

Oh, as operetas dos subúrbios brancos
deste cemitério.
(Ledo Ivo, Cantiga de cemitério)

Olhei-te todo o meu olhar!
(Duque Costa, Elogio exótico)

[O] outuno toca realejo
No pátio da minha vida
(Mário Quintana, Canção de outuno)


ÉTICA & JORNALISMO

Em Natal, já antes das eleições, o sítio Substantivo Plural levantava a questão da ética em jornalismo, o que resultou em debate na TV-Universitária da UFRN. À distância, não vimos o debate, mas lemos com atenção todas as intervenções no Substantivo. A seriedade de Tácito Costa, Sérgio Villar e Rodrigo Levino, por exemplo, é inegável. Assim como inegável é a seriedade da Profª Josimey Costa, que conduziu o debate na TV-U. Parece, igualmente, ser o caso do Prof. Alex Galeno, que participou do mesmo. Tentar desqualificá-los politicamente seria cômico, se não fosse trágico - como se costumava dizer anos atrás. No fundo, querem justificar o injustificável: o apoio ora camuflado, ora explícito, de forma eticamente discutível, a uma candidatura sem o menor gabarito social e/ou político para governar uma cidade como Natal. De qualquer modo, o Substantivo Plural - espaço aberto para todas as tendências democráticas da sociedade - está de parabéns.

Em tempo:
Certos jornalistas e professores de ética precisam rever The big carnival / A montanha dos sete abutres (1951), filme de Billy Wilder com Kirk Douglas.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Versão/recriação de
Moacy Cirne
Clique na imagem
para ver,
no Poema/Processo,
o original da colagem acima
e outras colagens de
Luiz Rosemberg Filho


BALAIO PORRETA 1986
n° 2455
Rio, 15 de outubro de 2008


Sim, a cultura é o instrumento principal da opressão de classe. Mas também a cultura, e apenas ela, pode tornar-se um instrumento da emancipação socialista.
(Leon Trotski, in Cultura e socialismo, 1926)


Memória
BALAIO PORRET@
Rio, 9 de janeiro de 2002


POEMA/PROCESSO [] POESIA CONCRETA

Garrincha
[] Pelé
Hermeto Paschoal
[] João Gilberto
Glauber Rocha
[] Walter Hugo Khouri
Natal / Rio / Olinda
[] SP / Brasília / BH
Rio Potengi
[] Rio Tietê
Leila Diniz
[] Martha Rocha
Mangueira
[] X-9
Fla x Flu
[] Santos x Corínthians
Jesuíno Brilhante
[] Lampião
Gregório de Matos
[] Castro Alves
Zé Limeira
[] Leandro Gomes de Barros
Malhada Vermelha
[] Velho Barreiro
Carne de sol
[] Pizza
Sucos do norte
[] Milk-shake
Caldo de cana
[] Coca-cola
Rapadura
[] Adoçante
Aurora
[] Crepúsculo
Câmara Cascudo
[] Gilberto Freyre
Pós-tudo
[] Ex-tudos
Signagem
[] Linguagem
Processo/Significação
[] Estrutura/Conteúdo
Poema: matriz e projeto
[] Poesia: forma e função

E mais [2007]:

Praia de Pipa (RN) [] Arraial d'Ajuda (BA)
N.S. Copacabana (RJ) [] Av. Ipiranga (SP)
São Saruê [] Pasárgada
Laranjeiras (RJ) [] Barra da Tijuca (RJ)
Maracanã [] Pacaembu
Frevo [] Axé music
História [] Geografia
Alquimia [] Química
Antropologia [] Sociologia
Humor gráfico [] Texto verbal
Horóscopo chinês [] Horóscopo ocidental
América Latina [] América do Norte
África [] Ásia: Japão e Coréia do Sul
Alvaro de Sá [] Augusto de Campos

terça-feira, 14 de outubro de 2008


Quem ainda se lembra da revista Life?
Quem ainda se lembra de
Jennifer Jones,
a atriz de
Suplício de uma saudade
(Henry King, 1955)?


BALAIO PORRETA 1986
n° 2454
Rio, 14 de outubro de 2008


A prosa é o diurno, a poesia é a noite; se alimenta de monstros e símbolos, é a linguagem das trevas e dos abismos. Não há grande romance, pois, que em última instância não seja poesia.
(Ernesto SÁBATO. O escritor e seus fantasmas, 1963)


NOS DENTES
Sandra Camurça
[ in O Refúgio, 19/10/2006 ]

eu sempre soube
sempre soube
mesmo quando tudo parecia acabado
eu sempre soube
sempre soube
mesmo quando o mundo dizia que nada adiantava
eu sempre soube
sempre soube
mesmo sem ver a luz no fim do túnel
eu sempre soube
sempre soube
mesmo me sentindo derrotada
eu sempre soube
sempre soube
mesmo quando ninguém acreditava em mim
eu sempre soube
sempre soube
mesmo quando me sentia só
eu sempre soube
sempre soube
mesmo com o tesão ausente
eu sempre soube
sempre soube
mesmo desesperadamente descrente
eu sempre soube
sempre soube
mesmo sem paciência de esperar
eu sempre soube
sempre soube
Que a vida se agarra nos dentes.


GOZO
Carlos Pessoa Rosa
[ in Germina Literatura ]

se deixo nos lábios o poema
é para morder de leve a rigidez de seus seios
se acrescento sabores ao poema
é para agitar com mel a chama de seu gozo


Vale a pena ler
ENTREVISTA COM A ECONOMISTA
MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES
:

Entupiu o sistema circulatório do capitalismo

"Em entrevista à Carta Maior, a economista Maria da Conceição Tavares fala sobre a crise. As autoridades monetárias de todo o mundo têm que intervir rápido, antes que se forme a pior das bolhas, a de pânico, que é essa que está em curso, adverte. Para ela, o Brasil tem algumas vantagens importantes para enfrentar a crise, entre elas a existência de três fortes bancos estatais e pelo menos três grandes empresas públicas de peso, salvas do ciclo de privatizações desfechado pelo governo anterior. Isso dá ao governo instrumentos para intervir fortemente no mercado".
[Leia a entrevista completa in
Carta Maior ]


Clique na imagem
para ver outras colagens de
LUIZ ROSEMBERG FILHO

segunda-feira, 13 de outubro de 2008


Clique na imagem
para ver a seqüência do balé aquático em
Escola de sereias
(George Sidney, 1944),
fantasia hollywoodiana em alto estilo,
em plena Segunda Guerra Mundial,
com Esther Williams:
o filme que,
ao ser exibido em Caicó, por volta de 1950/51,
no querido Cinema Pax de Seu Clóvis,
me deixou completamente apaixonado
pela atriz americana
na inocência dos meus sete/oitos anos.


BALAIO PORRETA 1986
n° 2453
Rio, 13 de outubro de 2008


O homem é um deus quando sonha
e não não passa de um mendigo quando pensa.

(Friedrich HÖLDERLIN, 1770-1843)


POEMA de
Padmaya
[ in Cosmunicando ]

me nina...

que sou menina.

depois me excede, me acontece
me habita a sede
se esquece em mim.


Depois de ler Rita e Apoena e Adriana Falcão
SOBRE A ENTREGA
Luma Carvalho
[ in E o que é a Poesia? ]

Para casar com você faço de tudo!
me diz... você prefere a cauda de um cometa ou os
anéis de saturno?!


RECORDANDO 1958
[ cf. Feliz 1958; o ano que não devia acabar,
de Joaquim Ferreira dos Santos, 1997 ]

Alguns ícones:
O maiô Catalina / O bambolê / A lambreta
A taça Jules Rimet / O violão do João / O rádio de pilha
A televisão / O LP de 12 polegadas / A escada rolante
O elevador com música ambiente / O lança-perfume Rodouro
O DKW-Vemag / A camisa Volta ao Mundo / O vestido trapézio

Algumas gírias:
É sopa : É fácil
Sopa no mel : Fácil
Café pequeno : Ninharia
Borogodó : Charme
É de chuá : É ótimo
Que mocotó! : Que coxa!
É fogo na roupa : É complicado
Matusquela : Maluco
Mixa : Sem importância
Meu chapa : Meu amigo
É da pontinha : É bom
Mandraque : Homossexual
Eu quero é rosetar : Ir atrás das mulheres
Garota do barulho : Garota sensacional

Melhores filmes exibidos no Rio:
Glória feita de sangue (Kubrick)
Moby Dick (Huston)
A embriaguez do sucesso (Mackendrick)
As grandes manobras (Clair)
Em busca de um homem (Tashlin)
Os que sabem morrer (Mann)
Os boas vidas (Fellini)
Doze homens e uma sentença (Lumet)
Por ternuta também se mata (Clair)
Amor na tarde (Wilder)